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Mestre Nado


Ceramista de esculturas cantantes, Agnaldo da Silva, o Mestre Nado, produz há mais de 20 anos ocarinas, instrumento de sopro em formato globular que lembra uma flauta. Originalmente oleiro e multi-instrumentista autodidata, tem mais de 70 instrumentos de sopro e percussão registrados.

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Sobre as criações

Ceramista de esculturas cantantes, mestre Nado produz há mais de 20 anos ocarinas, instrumento de sopro em formato globular que lembra uma flauta. Inspirada nos elementos da natureza, as ocarinas redondas fazem barulhos que remetem à água. As mais comuns costumam ter 9 notas, mas algumas das suas invenções chegam a alcançar 27 notas. “Eu customizei ela para mim, pois queria poder tocar músicas mais encorpadas”. Uma ocarina comum não conseguiria atingir tanta variedade de tons. Suas ocarinas mais simples são para atrair as crianças, e acompanham a escala musical. “É bom porque a criança vai descobrindo que colocando um dedo de um lado ela produz um dó, tirando o dedo de outro lado, faz um ré”. 

Sobre quem cria

Crédito da foto: Ananda M.

Da infância, as memórias das cantorias que os oleiros cantavam nos fins de tarde. Aos dez anos, Agnaldo da Silva já trabalhava em uma olaria, produzindo “quartinhas” (vasos que mantinham a água fresca) o que garantia ao menino uma acanhada renda semanal. Até os 17 anos, passou por muitos ofícios: foi catador, batedor de barro, polidor de peças, controlou o forno e se tornou oleiro. Chegou a produzir (em torno manual) até cem quartinhas em um único dia. 

Antes de mais nada, Mestre Nado é oleiro, formado nos anos 60. Fazia jarro, filtros, pra armazenar e resfriar água, um negócio que entrou em declínio com a chegada das geladeiras domésticas. Foi em busca de trabalho em Tracunhaém, Zona da Mata, que já revelava o potencial da cerâmica figurativa. Permaneceu quatro anos e fez o caminho de volta, com a desvalorização das quartinhas frente a concorrência das geladeiras, também no interior do Estado.

Trabalhou com Thiago Amorim e com Francisco Brennand. Aprendeu a dominar a arte da queima em altas temperaturas e começou a produção das primeiras peças figurativas. Em 1978, morando em Olinda, perdeu tudo em uma grande cheia que atingiu a cidade. “Perdi com ela, mas também descobri que tinha sobre os meus pés uma grande reserva de barro com a qual reconstruiria a vida”. Mais uma vez enfrentou a concorrência e vendas minguadas, agora dos vasos decorativos. Em um momento de preocupação, desacreditado e sem perspectivas, Nado foi para o Alto da Sé. Em busca de desvendar, criar algo novo e diferente para vender, manipulava uma pequena bola de barro e acidentalmente, ao fazer alguns orifícios, descobriu um instrumento com 3 oitavas. Havia criado o apito. Não sabia, mas estava dando novos significados a um dos instrumentos de sopro mais antigos da humanidade, a ocarina. 

Se lançou em intensos anos de estudos e experimentações. Logo notou que o instrumento precisava de acompanhamento e desenvolveu outros com força de vontade e persistência, características dos autodidatas. Se tornou músico, revelou-se compositor, e tornou as esculturas sonoras sua identidade artística. Hoje, são mais de 70 instrumentos de sopro e percussão registrados, entre ocarinas, flautas, maracas, raco-raco, bum d’água, adotados em shows de Antônio Carlos Nóbrega, Antúlio Madureira, Milton Nascimento, Ney Matogrosso e apresentações da Orquestra Sinfônica de São Paulo. “Eu nunca tinha tocado sopro na vida, achava bonito mas achava que ficava doente do pulmão quem tocava instrumento de sopro”. Mas conseguiu fazer algo inédito: seu próprio instrumento. Descobriu o “som do barro”. Único no Brasil e fora, seu trabalho ganhou o mundo. 

Multi-instrumentista, Mestre Nado sentiu necessidade de fazer música. Em 2014 produziu seu primeiro CD (O Som do Barro) relacionando ritmos musicais (xote, xaxado, ciranda, coco, frevo e baião) aos elementos da natureza. Conta com o vigor da família, em um trabalho de pesquisa que não se tem apoio. A divisão das tarefas entre os filhos Sara, Michael, Júnior e Nemias inclui a preparação e misturas da argila, produção e queima das peças, comercialização, oficinas e apresentações. “Todos sabem fazer uma ocarina e entendem da música que sai dela”.

Sobre o território

Foto de divulgação Artesol

Mestre Nado é de Olinda, Região Metropolitana do Recife, onde hoje mantém o Centro Cultural Som do Barro, um trabalho educativo para criança na comunidade de Caixa D’Água. Um galpão grande, com pé de mangueira, jango, tamarindo. Lá ele produz, ensaia, tem os fornos, tornos de oleiros, e a manutenção é feita por todos. Ele cuida do jardim, outro do banheiro e assim vai. Já dedicou mais de 50 anos de ensino com a argila, uma das atividades que mais gosta de fazer.

“Gosto muito de lidar com crianças (mais de duas mil) e, principalmente, os idosos. É uma grande troca de energia que sempre tem o barro e sua capacidade transformadora como fio condutor”.

E ele torna a ensinar dando palestras em escolas para falar da eficácia do barro, de como ele é um material que não desgasta fácil. “O barro já sofreu muito, era visto como uma coisa suja por muito tempo”.

Aos 72 anos, mais de 60 dedicados ao barro – Nado, aluno e professor em seu ofício, repassa adiante a lição assimilada com o tempo:

“Na vida sempre estou aprendendo. Temos que ser como a argila que se deixa moldar para ser transformada”. 

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