Mestre Riva
Rivaildo Moraes Peixoto, o mestre Riva, conta que é filho da mata e da palmeira. Nasceu no meio do artesanato, pois é de uma família tradicional em que avós, tios e tios-avôs faziam brinquedos de miriti.
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Sobre as criações
Os brinquedos de miriti são feitos com uma fibra leve, retirada dos talos das folhas da palmeira conhecida como miriti, miritizeiro ou buriti. Os talos são podados por ribeirinhos extrativistas das palmeiras novas, sempre na quarta minguante da lua para que a matéria-prima tenha ótima qualidade. O manejo é feito de forma sustentável para que o crescimento da planta não seja prejudicado. Depois da primeira poda, espera-se de seis a sete meses para realizar a seguinte.
Para confeccionar os brinquedos, a bucha, fibra que fica no interior dos talos, é entalhada com faca bem afiada. Depois as peças são lixadas, seladas e por fim pintadas, com um colorido alegre e exuberante. Tradição herdada de indígenas há pelo menos 200 anos, os brinquedos representam cobras, aves, canoas, gente… toda a sorte de figuras que habitam o universo e o sonho dos povos que vivem nas margens dos rios.
Os brinquedos de miriti dão cor e alegria ao Círio de Nazaré, onde são tradicionalmente vendidos pelos girandeiros nas girândolas, grandes cruzes de madeira que levam inúmeros brinquedos pendurados.
Sobre quem cria
Rivaildo Moraes Peixoto, o mestre Riva, conta que é filho da mata e da palmeira. Nasceu no meio do artesanato, pois é de uma família tradicional em que avós, tios e tios-avôs faziam brinquedos de miriti. Com cinco anos de idade, já acompanhava o pai nas idas à Belém para vender os brinquedos no Círio.
Iniciou o aprendizado do ofício com a mãe, que o ensinou a pintar. Com nove anos passou a ajudar de fato na produção da família, fazendo o acabamento com lixa e selamento. Só aprendeu a entalhar com dezesseis anos, devido aos perigos de manipular a faca de artesão, que é muito afiada. Com essa idade já produzia de forma independente, tendo no pai o principal tutor.
Atualmente, além de produzir os brinquedos de miriti, Mestre Riva é uma referência para a comunidade de artesãos de Abaetetuba. Dedica-se a organizar eventos, feiras, simpósios e palestras do IMMA – Instituto Multicultural Miritis da Amazônia, que articula mais de 100 famílias de artesãos de Abaetetuba.
Mestre Riva lembra que, quando era criança, a confecção dos brinquedos de miriti era bem diferente, pois não se usava tintas e seladores sintéticos. As pinturas das peças, por exemplo, eram feitas com corantes naturais obtidos de plantas da floresta. Conta que ia alegre coletar canarana na beira do rio para tirar as esponjas de dentro de seus tubos, que eram usadas fazer os braços dos casais. E os pincéis tinham cerdas de capim. Por trazer esses conhecimentos de família na memória, Riva sonha em recuperar e contar esse antigo modo de fazer brinquedos de miriti para que os artesãos das novas gerações conheçam parte de sua própria história.
Sobre o território
Abaetetuba, que significa “reunião de homens verdadeiros”, na língua tupi, é conhecida como a capital mundial do brinquedo de Miriti. Está localizada na região nordeste do estado do Pará, a 60 km de Belém, no Baixo Tocantins e possui uma rede hidrográfica bastante vasta, sendo quase toda navegável, contando com florestas de terra firme e de várzea. A cidade abarca um conjunto de 76 ilhas que são habitadas por comunidades ribeirinhas e quilombolas que possuem memórias, costumes e práticas culturais distintas.
A beira do rio Maratauíra, afluente do rio Tocantins, é o ponto de encontro entre as comunidades que vivem nas ilhas e a população urbana e, por estar mais situada no cais da cidade, abriga a mais rica feira do município. A localização facilita o escoamento dos produtos trazidos de barcos ou canoas pelos ribeirinhos que vendem sua produção para os consumidores diretos, ou para os atravessadores.
A região de Abaetetuba possui miritizeiro em abundância, também conhecido em outras regiões do país como buriti. É chamada pelos paraenses de “árvore santa” ou sagrada, por sua importância na vida de muitas comunidades tradicionais que aproveitam toda a árvore, tendo o cuidado de manejá-la de forma sustentável, sem derrubá-la. O fruto é utilizado para a alimentação, as flores para licor, a palha para a construção das cabanas, a fibra das folhas para a confecção de redes e os talos e a bucha, fibra conhecida como isopor da Amazônia, para a produção dos brinquedos.