MIRITONG – Associação Arte Miriti de Abaetetuba
A MIRITONG, ONG do Miriti, criada em 2005, trabalha a partir de três eixos: o social, o ambiental e o cultural em torno do manejo sustentável do miriti.
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Sobre as criações
Miriti é árvore santa
Raquel Lara Rezende
que vira rede,
cobre a cabana, vira cama.
Vira suco, mingau e até licor!
Dá sustento
pra mode a vida seguir seu balanço…
vira brinquedo,
passagem pro mundo de sonhos herdado.
O braço do miriti, palmeira nativa de áreas alagadiças, vira canoa, cobra, pássaro, gente. Brincar é uma das atividades mais importantes do ser humano. Brincando se aprende a entrar no universo da imaginação e do sonho. Os brinquedos são como um convite à criança e ao adulto, a adentrarem esse universo mágico, onde tudo é possível. A produção dos brinquedos envolve um processo de criação que é coletiva, pois a inspiração para os temas que são talhados na palmeira tem como fonte os mitos da região, a fauna e a flora, os costumes e as festas, como o Círio de Nazaré, uma das maiores procissões do Brasil e do mundo. Dessa forma, os brinquedos estabelecem o diálogo entre o real e o imaginário, despertando o afeto e a sensibilidade daqueles que vivem no lugar e podem ver nos brinquedos as histórias, lendas e o cotidiano da comunidade. A produção dos brinquedos de miriti é uma herança indígena que envolve, hoje, centenas de famílias na região de Abaetetuba, sendo considerado um processo sustentável de produção, tombado como património histórico cultural imaterial, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Sobre quem cria
A MIRITONG, ONG do Miriti, criada em 2005, trabalha a partir de três eixos: o social, o ambiental e o cultural. Dessa forma, seus projetos e ações refletem a preocupação em incentivar os jovens a frequentar a escola e a aprender o modo-de-fazer dos brinquedos de miriti, valorizar o artesanato produzido em Abaetetuba e a cultura da região. Assim, o saber-fazer dos brinquedos de miriti que antes era passado apenas dentro dos núcleos familiares, começa a ter maior difusão na região, onde cerca de 257 jovens já participaram de oficinas.
A iniciativa de fundar a ONG veio do interesse em potencializar a geração de renda familiar por meio dos brinquedos de miriti. A singularidade dos brinquedos e do se saber fazer traz a eles grande importância e valor cultural. O núcleo familiar é a principal forma de organização das comunidades na fabricação dos brinquedos. Cada membro da família possui uma função e todos trabalham juntos. Fazem parte da ONG cerca de 150 famílias que se dividem em quatro grupos de trabalho artesanal: Grupo Arte em Miriti Cores e Encantos da Amazônia; Grupo Tauerá de Beja, cujas atividades são realizadas na zona rural (colônia) onde, também desenvolve atividades com manejo da palmeira de Miriti, em parceria com a Associação dos Moradores; Grupo Pirocaba; e Grupo da Comunidade do Baixo Itacuruçá que se localiza na região das ilhas do município.
Sobre o território
“A floresta dá muita coisa boa né? Mas uma é especial que é a miritizeira. (…) pra mim, a árvore da bença ela tem um significado muito importante, sabe? Porque ela salvou a minha vida. Ela oferece a matéria-prima que salvou a minha vida, então tem um sentido muito especial. E eu passei a amar mais as pessoas depois que eu passei a amar a floresta, sabe?”
Valdeli Costa, artesão.
Abaetetuba, que significa “reunião de homens verdadeiros”, na língua tupi, é conhecida como a capital mundial do brinquedo de Miriti. Está localizada na região nordeste do estado do Pará, a 60 km de Belém, no Baixo Tocantins e possui uma rede hidrográfica bastante vasta, sendo quase toda navegável, contando com florestas de terra firme e de várzea. A cidade abarca um conjunto de 72 ilhas que são habitadas por comunidades ribeirinhas e quilombolas que possuem memórias, costumes e práticas culturais distintas.
A beira do rio Guamá é o ponto de encontro entre as comunidades que vivem nas ilhas e a população urbana e por estar mais situada no cais da cidade, abriga a mais rica feira do município. A localização facilita o escoamento dos produtos trazidos de barcos ou canoas, pelos ribeirinhos que vendem sua produção para os consumidores diretos, ou para os atravessadores. Estes são uma figura muito tradicional na região que navegam pelas comunidades, vendendo alimentos e toda espécie de produtos utilizados no dia a dia. Sua importância é refletida na sua representação presente na fabricação dos brinquedos. Uma das histórias que circula na região conta que a cobra-grande – também representada nos brinquedos – , protetora da beira, impede a mudança de local da feira. Dizem que sempre que um prefeito pensa na possibilidade de mudar a feira de lugar, a cobra-grande se põe a mexer e quebra calçadas, expressando seu descontentamento.
A região de Abaetetuba possui miritizeiro em abundância, também conhecido em outras regiões do país como buriti. É chamada pelos paraenses de “árvore santa” ou sagrada, por sua importância na vida de muitas comunidades tradicionais que aproveitam toda a árvore, tendo o cuidado de manejá-la de forma sustentável, sem derrubá-la. O fruto é utilizado para a alimentação, a palha para a construção das cabanas, a fibra das folhas para a confecção de redes e os braços e a bucha, fibra conhecida como isopor da Amazônia, para a produção dos brinquedos.