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Sobre as criações
A Carnaúba, palmeira nativa e abundante da região semiárida brasileira, inspira gerações e gera significativo impacto cultural e econômico para o Estado do Ceará. Também conhecida como ‘árvore da vida’, ela nos presenteia com riquezas em todo seu ciclo: do tronco, usa-se a madeira para construção civil; do pó, a cera para a fabricação de medicamentos, cosméticos e alimentos; e da folha, o emblemático artesanato.
As técnicas de beneficiamento da fibra e trançado de suas palhas são ancestrais; memória dos antepassados que é transmitida de geração em geração através da prática, do gesto e da palavra. O trabalho artesanal começa bem antes do trançado da peça em si, e revela um processo 100% manual e sustentável, feito com uma matéria prima de baixo impacto e biodegradável.
A folha utilizada (chamada de ‘olho’ da carnaúba) é colhida, passa por um processo de secagem de até 4 dias debaixo de sol, depois é “riscada”, ou seja, cortada com uma pequena faca, ferramenta inseparável das artesãs. Então, a palha é armazenada e envolvida por um pano úmido, para que permaneça maleável. Pronta para a arte, a fibra vai construindo a peça com o auxílio de mãos ágeis e talentosas, apoiadas nos saberes de diferentes pontos e técnicas.
Sobre quem cria
A AMCSA – Associação dos Moradores do Serrote e Adjacências – se formalizou em 2013 mas existe desde 2009 no distrito de Cabreiro. Maria Helena, ou Dona Boba – que de boba só o nome – é a mulher que articulou a mobilização do coletivo e sua formalização em formato associativista. Ela segue trabalhando pelo fortalecimento do grupo e, há 10 anos, ocupa a posição de presidente da Associação, revelando a confiança que as artesãs possuem em sua liderança desde o início. Até o nascimento da Associação, Dona Boba nunca havia saído da comunidade. A sede da CeArt, em Fortaleza, foi sua primeira viagem, onde recebeu apoio para a criação da Associação e segue parceira até hoje. Desde então, Dona Boba e as colegas voam longe, percorrendo todo o Brasil através de seu trabalho.
Na comunidade do Serrote, a maior parte das mulheres começou a trançar a palha com suas mães e avós. Varandas cheias de cadeiras de balanço sendo embaladas por artesãs compenetradas na conversa e no ofício, é o cenário mais típico para a palha de carnaúba se sentir em casa nas mãos de mestras e aprendizes, que vão transformando a matéria prima em peças com acabamento sofisticado. A criatividade, o colorido e a inovação dos artesãos da Associação dos Moradores do Serrote e Adjacências é reconhecida no Estado, em outros lugares do Brasil, e mais recentemente chegou em outros países, através da parceria com a marca também cearense, Catarina Mina.
O grupo hoje é formado por 70 artesãs ativas, além de mais 70 agregadas nos interiores vizinhos. Produzem bolsas, sousplats, tapetes, cestos e diversos objetos do trançado da palha de carnaúba. Atualmente, são produzidas mais de 400 peças por mês. Desde o nascimento da associação, recebem apoio da CeArt (Central de Artesanato do Ceará), do Sebrae, Sescs, da prefeitura de Aracati, além de parcerias com marcas e projetos independentes.
Sobre o território
Com 75 mil habitantes, há 150 km da capital, Aracati é um município do Estado do Ceará e tem como base de sua economia a agricultura, o cultivo do caju, coco, cana-de-açúcar, mandioca, milho, feijão e criação de camarões em cativeiro, além do turismo e do artesanato cultural.
A comunidade rural Serrote do Cabreiro fica próxima à curva do rio Jaguaribe, antes de desaguar no Pontal do Maceió, dentro do bioma da caatinga. Além do trançado de palha da carnaúba, o couro e o labirinto são alguns outros exemplos de tipologias artesanais típicas de Aracati, município que abriga dezenas de mestres e grupos que fazem parte do projeto RotasCeart, iniciativa do Governo do Estado do Ceará e Secretaria de Proteção Social, que mapeia e divulga os destinos turísticos mais interessantes do Estado do Ceará, tendo como guia o artesanato cultural local.