A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Renascer – Associação de Mulheres Artesãs de Barra de São Lourenço  


Em um cenário típico do Pantanal profundo, a comunidade ribeirinha de Barra de São Lourenço desenvolve atividades de pesca e turismo ecológico, além do artesanato riquíssimo em trançados de fibras abundantes no local, de um saber secular, herança do povo indígena Guató, com o qual trabalha a Renascer – Associação de Mulheres Artesãs de Barra…

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Os contatos devem ser feitos preferencialmente via Whatsapp.

Telefone (67) 99847-5692
Contato Leonida Aires de Souza
Sede Município do São Lourenço, Corumbá – MS

Sobre as criações

“O nosso trabalho é totalmente sustentável. Quando cortamos o Aguapé da beira dos rios, a gente ajuda o rio a se fortalecer, porque o acúmulo de Aguapé junta resíduos, que serão levados com a decoada e vão matar os peixes lá na frente”. 

A Associação de Mulheres Artesãs de Barra de São Lourenço Renascer trabalha trançados em fibras naturais, abundantes na região do Pantanal. Utilizam o talo do Aguapé, uma planta encontrada em alagados.  

Conforme o conhecimento tradicional indígena Guató, etnia que habitou essa região do Pantanal por séculos, as fibras são trabalhadas úmidas para que fiquem maleáveis, formando bolsas, chapéus, caminhos de mesa, jogos americanos, representações de animais locais, e cestos de todos os tipos e tamanhos. 

O processo de coleta dessas fibras começa cedo, de barco, percorrendo o rio para encontrar os Aguapés. A coleta é feita já cortando as pontas fibra que são levadas para a comunidade. Já em solo, as fibras são lavadas para retirar os resíduos e colocadas para secar por cinco dias, guardando as fibras pela noite e colocando-as ao sol pela manhã. Nesse momento é muito importante fazer o beneficiamento com um pano olhado no álcool para não manchar ou gerar bolor. 

Depois de secos, os talos são divididos por largura e comprimento. Os mais grossos são entrelaçados para fazer a “manta”, uma espécie de tecelagem, com as quais são feitos jogos americanos, bolsas e caminhos de mesa. Já os mais finos são trançados, para fazer chapéus, chaveiros, representações de peixes, chaveiros e peças mais delicadas. 

Muito integradas com o meio ambiente, o artesanato produzido “vem da natureza, é transformado nessas coisas bonitas, e quando já não se quer mais, você pode colocar de volta na natureza que ela vai servir para alimentar o solo”. 

Sobre quem cria

O trabalho tradicional na região foi repassado por Dona Josefina, uma mulher indígena Guató, que ensinou as técnicas a Catarina, quando esta ficou viúva aos 17 anos e precisava de uma atividade para sustentar seus filhos. Catarina começou a produzir os trançados e passou a ensina-los a outras mulheres, além de trabalhar na Casa do Artesão de Corumbá. 

Dona Leonida, atual presidente da Associação, relata que nunca gostou de pescar ou “catar isca” – pesca manual de carangueijo e traíra – e encontrou no artesanato ensinado por Catarina uma alternativa de trabalho que pudesse evitar os desgastes e doenças causados pela contato constante com a água e o pé no limbo. 

Dessa maneira, foi ela quem iniciou a articulação das mulheres para abrir uma Associação de Mulheres em 2015 e segue até hoje na liderança desse grupo, mantendo uma pequena exposição de produtos na sala de sua casa localizada a beira do Rio Corumbá. 

O trabalho com artesanato também contribui com a permanência das mulheres próximas aos seus filhos, trabalhando em casa para contribuir com a renda da família. Elas produzem e vendem na comunidade para turistas de todo mundo, mas também recebem encomendas pelas redes sociais, além de estarem presentes no Programa Corumbá Produz, com um ponto de venda fixo na cidade de Corumbá. 

Foto de divulgação Artesol

Sobre o território

A Associação está localizada em pleno Pantanal, na Comunidade Tradicional Barra de São Lourenço, em um cenário belíssimo e resguardado a quatro horas de barco da cidade de Corumbá. É uma área permanentemente alagada, caracterizada pelo turismo ecológico e de pesca. Possui área de 12.241 metros quadrados e foi declarada como interesse público por parte da Secretaria do Patrimônio da União. 

A comunidade vem sofrendo grandes impactos desde os incêndios de 2020 e o avanço do desmatamento e as consequências desses para os animais da região. Dentre essas consequências, a proximidade de animais como onças e cobras, que buscam alimentos próximos às casas. Então, além do artesanato, o grupo participa de movimentos sociais e ambientais, em busca de melhores condições de vida no território e a luta para que sua área seja demarcada como Reserva de Desenvolvimento Sustentável. 

Foto de divulgação Artesol

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