Rendeiras da Aldeia
É em Carapicuíba, território da região metropolitana da grande São Paulo, que o grupo Rendeiras da Aldeia vem resgatando a tradição da Renda e repassando esse conhecimento. Até certo ponto, elas compravam os riscos, como chamam os desenhos para rendar, de Pernambuco, mas hoje elaboram os seus com identidade própria.
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Sobre as criações
A Renda Renascença tem origem Italiana e chegou ao Brasil com o ensino das rendas e bordados nos Colégios de Freiras, nos quais estudavam as jovens de famílias mais abastadas. Costumeiramente, o saber fazer renascença foi preservado e é encontrado no interior da região Nordeste, principalmente entre os estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Porém, com os fluxos migratórios dentro do país, esse saber se espalhou junto às rendeiras que saíram do Nordeste com suas famílias.
E é em Carapicuíba, território da região metropolitana da grande São Paulo, que o grupo Rendeiras da Aldeia vem resgatando a tradição da Renda e repassando esse conhecimento. Até um certo ponto, elas compravam os riscos de Pernambuco, mas hoje elaboram suas próprias criações. Ainda sim, priorizam o uso de linha e fitilho brancos, conforme a tradição.
A Renda é feita com agulhas, a partir do posicionamento do lacê – fita de algodão – e o entrelace de linhas finas também de algodão, em uma almofada individual. Segue o seguinte processo: o risco é feito no papel manteiga, que é alinhavado em uma base de plástico ou papel. Depois, o desenho é contornado com o laçê em alinhavo, gerando uma espécie de moldura. A base pronta é colocada em cima da almofada individual que cada rendeira trabalha em seu colo ou em cima de um suporte. Com os pontos – xerem, abacaxi, rococó, dois amarrados, dentre outros – os contornos de lacê são preenchidos. Cada trabalho leva semanas ou até meses para ser finalizado.
Se dedicam ao processo de pesquisa para criar coleções autorais que integram a tradição da renda e a linguagem contemporânea. Formam parcerias com estilistas, designers, galeristas e ocupam espaços de aprendizado, promovendo oficinas e utilizando a renascença como ferramenta de articulação política, com toda força e delicadeza que a tipologia carrega.
A coleção autoral “rendar para guardar”, por exemplo, apresenta camisas e chemises em linho, com bolsos rendados, que levam a renda em destaque, mas também otimizam seu tempo de feitura. Além disso, produzem peças decorativas, obras artísticas, aplicações e diversos outros produtos. Já foram premiadas pelo Prêmio do Objeto Brasileiro, participam de eventos de arte, artesanato e design, e algumas de suas peças circularam em exposições internacionais em Genebra e Portugal.
Sobre quem cria
O grupo Rendeiras da Aldeia é formado por 16 mulheres, e tem uma história de formação bastante interessante: A OCA Escola Cultural é uma organização que oferece diversas atividades culturais e educacionais para crianças da Aldeia de Carapicuíba, no contra-turno escolar. Foi a partir da procura por alfabetização de adultos que algumas mulheres passaram a se reunir, e na troca de conhecimentos que essas mulheres estabeleceram, passaram a se dedicar a ensinar e aprender bordado, crochê e outras habilidades, umas com as outras. Em paralelo, elas cantavam, em uma investigação a respeito de cantos de trabalho realizada por Lucilene, gestora da OCA. Foi em uma dessas trocas que Dona Wilma, pernambucana de Poção, foi convidada a ensinar a Renda Renascença a esse coletivo de mulheres. Como elas mesmas relatam, depois de aprender a Renda, se apaixonaram e nunca mais deixaram.
Se reúnem semanalmente para rendar juntas e também oferecem aulas e oficinas para mulheres e crianças da região. Além disso, o grupo mantém uma agenda de intercâmbio com outros grupos de mulheres, como as Mulheres do Vale do Jequitinhonha e o encontro de Rendeiras que promovem em julho, em busca de fortalecimento do coletivo e autonomia de mulheres.
Sobre o território
A Aldeia de Carapicuíba é um território pequeno, mas de alta densidade demográfica, com mais de 400 mil habitantes. Foi formada a partir da gentrificação do centro de São Paulo e é constituída por pessoas de todas as partes do Brasil, que foram para São Paulo trabalhar na construção civil, principalmente no século passado.
Segundo Lucilene, a OCA Escola cultural já nasceu nesse contexto de pessoas migrantes. Se dedicam a diversas atividades culturais e educacionais, abarcando desde práticas artísticas e cultura popular, a assistência social e de saúde, incluindo reforço escolar e alfabetização.
O grupo Rendeiras da Aldeia trabalha dentro da estrutura da OCA, ainda que de maneira autônoma, o envolvimento com as atividades da organização é constante, contribuindo na concepção e execução de figurinos e outras atividades culturais promovidas.