ARBISC – Associação das Rendeiras de Bilro da Santana do Cariri
As rendas expressam por si sós a delicadeza do jeito de ser das rendeiras de Santana. A linha que utilizam é mais grossa que o convencional e para conseguirem a espessura ideal, as rendeiras enrolam com o auxílio de um fuso, ou ainda utilizam o barbante.
Mostrar contatos
AbrirFechar
Os contatos devem ser feitos preferencialmente via Whatsapp.
A Artesol não intermedeia relações estabelecidas por meio desta plataforma, sendo de exclusiva responsabilidade dos envolvidos o atendimento da legislação aplicável à defesa do consumidor.
Sobre as criações
“No pé de uma grande serra
Onde a natureza ri
Se encontra lá minha terra,
Santana do Cariri,
Minha velha Tiritomba.
Perto de mim ninguém zomba,
Pois é meu berço de riso.
Foi lá que na minha infancia
Eu zombei da circunstancia,
É lá que é meu paraíso”.
FRAGMENTO DO POEMA “MEU RECANTO”, DE GERALDO MOREIRA DE LACERDA, FALECIDO ESPOSO DA RENDEIRA DONA TUDINHA
As mãos se movem com tanta rapidez! Os olhos mal conseguem acompanhar os movimentos dos bilros que dão peso às hastes de macaúba, palmeira própria de florestas tropicais, em formato de cilindro, que sustentam as linhas que são rendadas. A quantidade de bilros varia de acordo com o modelo da renda, podendo chegar a mais de trezentos. No entanto, apenas quatro são manipulados ao mesmo tempo. As rendas expressam por si sós a delicadeza do jeito de ser das rendilheiras e rendeiras de Santana. A linha que utilizam é mais grossa que o convencional e para conseguirem a espessura ideal, as rendeiras enrolam com o auxílio de um fuso, ou ainda utilizam o barbante.
As rendeiras se sentam diante de uma almofada cheia de palha de bananeira e sobre ela colocam um papelão com pequenos furos proporcionalmente distribuídos, onde fincam os espinhos de mandacaru, cacto nativo do Brasil, que guiam a tessitura complexa do vai e vem dos bilros. A peça principal desse tipo de renda é a rede que demora aproximadamente três meses para ser concluída. Também rendam jogos americanos, toalhas e caminhos de mesa, toalhinhas de bandeja, almofadas, entre outras peças.
Sobre quem cria
Cerca de 20 mulheres compartilham a gestão da associação, cuja sede fica no espaço do Museu Histórico Casarão Cultural Coronel Filinto da Cruz Neves. A organização do grupo se deu em 2009, a partir de um curso de bilro oferecido para as mulheres do município, pela Secretaria de Assistência Social. Muitas que compõem hoje a associação aprenderam a fazer a renda de bilro com suas mães e avós. O prazer no fazer está presente no artesanato dessas mulheres que desejam despertar nas mais jovens o mesmo gosto pela renda.
Sobre o território
O Cariri tem vocação para ser encantado. Uma mística diferente paira sobre a região, conhecida como o berço da paleontologia nordestina. As montanhas que formam a chapada do Araripe, e cercam a região, são as guardiãs da história do lugar, acessível pelos vestígios fósseis deixados pelo tempo, como uma lembrança de quando tudo era coberto por um enorme lago de água salina. Ali se concentra uma das maiores formações fósseis do mundo e parte dela se encontra no primeiro Geoparque da América Latina, Araripe, que conta com nove sítios geológicos e paleontológicos, sendo um deles em Santana.
Região sul do Ceará, na chapada do Araripe, a 500 km de Fortaleza e quase divisa com Pernambuco, o Cariri foi palco de grandes histórias e lutas, como a do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, que reuniu camponeses liderados pelo beato José Lourenço. Em fuga da seca no período da Ditadura, se refugiaram em busca de água, levando consigo essa característica da resistência e da luta. A região abriga também a bacia de Araripe, uma das mais importantes bacias hidrográficas do nordeste que abastece com suas águas subterrâneas vários municípios.
Trata-se, assim, de uma região cheia de surpresas e riquezas que não podem ser medidas, nem pesadas e que fazem do Cariri um lugar único, desde a paisagem às mãos do carirense que surpreende pelas belezas que é capaz de criar, até o mundo encantado criado pelos mitos e lendas da região. O colorido da cultura cheia de vida e personalidade vibra nas rodas de Coco, no Boi, Reisado e Maracatu; no pífano, no cordel, na zabumba e nas rendas que dão movimento e compõem o imaginário encantado do lugar.
