A Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro é uma iniciativa da Artesol, organização sem fins lucrativos brasileira, fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso. Seu objetivo principal é promover a salvaguarda do artesanato de tradição cultural no Brasil. Por meio de diversas iniciativas, a Artesol apoia artesãos em todo o país, revitaliza técnicas tradicionais, oferece capacitação, promove o comércio justo e dissemina conhecimento sobre o setor.

Grupo de Artesanato As Fuxiqueiras da Chapada do Baixio


CratoCE

Através do fuxico as mulheres produzem colchas, tapetes, peças de vestuário e uma diversidade de produtos em cores vivas elaborados com muito cuidado, amor e união. Chamam de “fuxicoterapia” o trabalho que traz tanto sentido e alegria ao cotidiano.

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Os contatos devem ser feitos preferencialmente via Whatsapp.

Rua Maria Tavares de Oliveira 20, 610 – Chapada do Baixio – Distrito Baixio das Palmeiras, Crato – CE

Sobre as criações

O fuxico é uma técnica de costura artesanal na qual se aproveitam retalhos de tecido de tamanhos variados produzindo pequenos círculos alinhavados com um buraquinho no meio. O trabalho das fuxiqueiras da Chapada do Baixio é fruto de um resgate e renovação da técnica, antes utilizada para uso doméstico e às vezes, comercial. 

Começam marcando o pano com o molde redondo, em seguida cortam os pedados do tecido em formato circular. O pedaço cortado tem suas extremidades alinhavadas cuidadosamente com auxílio de linha e agulha, dando origem ao fuxico, que tem no direito uma costura que lembra uma flor e o avesso liso. Cada fuxico é unido ao outro manualmente para dar origem à uma peça, assim nascem colchas de cama, toalhas de mesa, roupas, bolsas e o que mais as mãos e imaginação permitirem criar.  

As fuxiqueiras têm muito amor e orgulho de suas produções, o acabamento primoroso e as cores vivas combinadas são marcas registradas do grupo. Cada peça produzida passa pelas mãos de todas, já que se dividem para otimizarem o trabalho. Algumas marcam o tecido, outras cortam, e certas delas preferem mesmo fazer o fuxico. Três artesãs se especializam na montagem e modelagem das peças. Assim, coletivamente elas fazem a “fuxicoterapia”, trabalham com as mãos, a mente e alegram seu cotidiano, costurando suas vidas com as linhas da solidariedade e da coletividade.  

“Cada coisinha dessas que eu faço, no marcar, no cortar, no fazer, representa muita coisa pra mim. Eu me sinto feliz em fazer isso”.

Rosa Amelia, artesã.   

Crédito das fotos: Jamille Queiroz

Sobre quem cria

O grupo nasceu de um ato de amor e solidariedade da coordenadora, Maria de Lourdes, conhecida como Nina. Conta que em 2016 ela fez um curso de fuxico pelo SENAC/Ceará, no qual aprendeu a fazer 5 peças com fuxico. Ela saiu do curso decidida a compartilhar o que tinha aprendido com as demais mulheres de seu bairro, na Chapada do Baixio. Sendo um bairro rural, que vive da agricultura, ela viu no fuxico uma possibilidade de gerar renda para as mulheres e enfeitar o cotidiano com os artesanatos produzidos, como vira a sua mãe, que também fazia fuxico, fazer.  

“O fuxico me deu uma nova vida, como eu me sinto feliz, eu quis vê-las felizes também”.

Nina, coordenadora do grupo

Em 2017 convidou um grupo de mulheres para aprender o fuxico e trabalharem juntas, hoje estão em onze mulheres. Contaram com ajuda do Cáritas Diocesana do Crato para iniciarem o trabalho, comprando tecidos e materiais de aviação. Após a pandemia, conseguiram o reconhecimento de ponto de cultura da cidade e acessaram mais recursos para se estruturarem como associação. Em 2024 trabalharam para a coleção “Cariri: o início e o fim” de Marina Bitu, estilista cearense. Confeccionaram blusas, saias e vestidos para a coleção, cujo resultado as encheu de orgulho.  

Crédito da foto: Jamille Queiroz

Estão se estruturando como associação e almejam uma remuneração justa e estável pelo seu trabalho. Para além de um grupo produtivo, se consideram uma família, compartilham dores e alegrias, se apoiam e constroem o sonho de uma vida digna, cheia de amor à arte.  

“Antes eu achei que fosse só um passatempo, hoje não, é uma coisa mais do que importante na minha vida. É uma coisa que complementa o dia da gente, às vezes até uma coisa que a gente perdeu, chegando aqui a gente encontra. Pra mim é fundamental, é mais do que importante”.

Ana Pereira, artesã

Sobre o território

O Crato está localizado na região do Cariri, sul do Ceará, a 542 km da capital Fortaleza. O município faz parte da Chapada do Araripe, acidente geográfico e sítio paleontológico localizado nas divisas de Pernambuco, Ceará e Piauí. A chapada abriga uma floresta nacional, uma APA (Área de Proteção Ambiental) e um Geoparque. 

Araripe vem do tupi ararype e quer dizer “no rio das araras”. O nome por si só fala bastante sobre o território que conta com uma bacia sedimentar que banha a região com 348 fontes naturais de água e transita entre três biomas: caatinga, cerrado e mata atlântica, sendo a vegetação predominante de cerradão, com árvores de até 15 metros. Os municípios mais próximos são Exu e Crato, de um lado Pernambuco, do outro Ceará. Dois biomas diferentes beiram a Chapada que conta histórias que precedem a humanidade, da era mesozoica. Na região foram encontrados fósseis de dinossauros de diversas espécies pelo Museu Nacional da Universidade do Rio de Janeiro. 

Esse contexto geográfico permite o entendimento do Crato como “oásis do sertão” cearense. Cidade verde, montanhosa, abundante em água, com casas coloridas, onde a cultura popular e o artesanato pulsam e ocupam a cidade de forma harmônica e acolhedora. 

Crédito das fotos: Jamille Queiroz

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