Associação Aulukumã do Alto Xingu
Através das criações artesanais e artísticas, o povo Kalapalo expressa suas visões de mundo e mantém viva suas tradições, expressão de uma sociobiodiversidade do Alto Xingu.
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Sobre as criações
Donos de uma riqueza simbólica e artística, o povo Kalapalo produz diversas peças de cestaria, trançado, adornos em miçangas e conchas de caramujo que estão inseridos no uso cotidiano ou ritualístico.
Com o kingi (buriti) produzem cestarias, redes tradicionais, kusu (cestos), tuahi (esteiras), suporte do tukanapi (cocar de uso ritual), agi (suporte sobre o qual se apoiam alimentos), além de abanos de palha de buriti usado no preparo da tapioca. Cada tipo de cestaria envolve um tempo de produção, que pode chegar a meses. O teçume inicia-se com a colheita da fibra do buriti na mata, que, após colhidas, são desfibradas e secas. A depender da temperatura, a secagem pode demorar mais ou menos – caso esteja quente, é mais rápido, se estiver chovendo, leva mais tempo. Após secas, são preparadas as tinturas, à base de corantes naturais, como urucum, jenipapo e carvão, para dar cor às fibras. Já tingidas, são trançadas durante horas, ou dias, dando origem à diversos objetos que acompanham o cotidiano ou tem usos específicos e restritos.
As redes são uma das peças de produção mais longa e complexa: apenas algumas mulheres dominam todo o processo, que envolve o processamento da fibra de buriti de modo a produzir uma longa e fina fibra, que será trançada cuidadosamente até que se tornem redes, o que pode levar meses.
Os ornamentos, feitos de miçangas de vidro, são produzidos pelas mulheres da aldeia, sendo uma das poucas produções com materiais adquiridos fora do território Kalapalo. Com cores fortes e desenhos autorais, enfeitam e embelezam o cotidiano do povo.
Os grafismos são parte de uma linguagem artística única, que expressa uma cosmovisão complexa, que liga este e outros mundo, comunicam um modo de estar no mundo do qual os Kalapalo são guardiões. Cada grafismo tem significados e usos específicos, sendo alguns de uso restrito por certos membros da comunidade.
Tahudjani Kalapalo afirma que “Os grafismos são de suma importância para a manutenção da nossa cultura. Cada grafismo tem significados e usos específicos, em um determinado tempo. Alguns grafismos são de uso restrito, tem uma história e um espírito que precisa ser respeitado”.
Diante das mudanças sócio-históricas, os saberes do fazer artesanal e artístico estão nas mãos dos mais velhos. Através das oficinas realizadas em 2023 no projeto Kingi – “buriti” na língua Kalapalo, buscou-se repassar os conhecimentos dos mais antigos e manter vivos os saberes e fazeres ancestrais desse povo. Em 2012 também foi realizado o projeto Inhu – “concha de caramujo”, com financiamento da Unesco e do Museu do Índio, para repassar e documentar os conhecimentos envolventes na produção dos diferentes colares e cintos de caramujo, objetos tidos como tradicionais do povo Kalapalo. Um documentário sobre o assunto foi criado.
Sobre quem cria
O povo Kalapalo é uma população indígena de cerca de 3000 pessoas, que vivem espalhados em 16 aldeias na região do Alto Xingu, no Território Indígena do Xingu. Falam a língua Kalapalo, que está dentro família linguística Karib.
A Associação Aulukumã do Alto Xingu é a associação do povo Kalapalo da aldeia Aiha, a maior e principal aldeia de seu povo, tendo sua atuação voltada para articulação política do povo Kalapalo. Tem três objetivos principais: a articulação com autoridades a níveis municipal, estadual e federal; o fortalecimento da cultura tradicional Kalapalo, através da realização de oficinas e da busca de apoios; e a construção de alternativas econômicas sustentáveis para o povo Kalapalo.
Sobre o território
Criado em 1961, há mais de 60 anos, o Parque Indígena do Xingu, atualmente denominado Terra Indígena do Xingu (TIX), foi a primeira grande terra indígena reconhecida no país, alcançando a extensão de 2.825 hectares. Fica no nordeste do Mato Grosso, em uma região de transição entre o Cerrado e a Amazônia, inserido na bacia do rio Xingu. Abriga diversas etnias indígenas – cerca de 16 povos distribuídos por todo o território. No coração do Brasil, o território delimitado é muito inferior àquele ocupado tradicionalmente pelos povos indígenas, na demarcação muitas de suas áreas foram liberadas para a expansão agrícola e são utilizadas atualmente pelo agronegócio.
O povo Kalapalo habita a porção sul do parque, área cultural denominada Alto Xingu, área também ocupada por outros povos: Aweti, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nafukua, Naruvôto, Waurá e Yawalapiti. Esses povos, que estão articulados há séculos em redes de trocas, casamentos e rituais, guardam, no entanto, diferenças e identidades étnicas próprias. O contato dos brancos com o povo Kalapalo, assim como com outros povos que habitavam a cabeceira do rio Xingu, começou na década de 40. Foram atingidos pela gripe trazida pela Expedição Roncador-Xingu, e tiveram uma redução drástica de sua população, que está sendo recuperada desde a criação do TIX. Atualmente conta com cerca de 3000 membros que vivem em 16 diferentes aldeias espalhadas pela região do Alto Xingu.
Tendo sido transferidos de seus territórios tradicionais, os povos enfrentam desafios para gerir e acessar os recursos naturais que são estratégicos e vitais para a sua manutenção cultural e física. A ocupação do entorno do território por atividades de extração de madeira, pecuária, caça predatória e plantação de soja, afetam as águas do Xingu, que cortam o parque e abastecem as comunidades. Poluídas, contaminadas de agrotóxicos e assoreadas, as águas do rio, antes fonte de vida, estão sob risco e comprometem as atividades de pesca, uma das atividades que garantiam a subsistência das populações indígenas. Hoje as principais atividades econômicas dos Kalapalo são a agricultura, tendo como forte a plantação de pequi e da mandioca, o etnoturismo de base comunitária e o artesanato.