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Sobre as criações
O bordado livre, que conserva pontos tradicionais reorganizando os espaços e propondo novos estilos de desenho, tem sido explorado de inúmeras formas na produção artesanal brasileira.
No grupo Bordazul, a técnica ganha novos significados a partir da prática das bordadeiras, que bordam em cores vivas as histórias e personagens marcantes de seu território, o Riacho Doce. Com fios de algodão nos tecidos coloridos, elas bordam almofadas, chaveiros, colchas, estojos, painéis, marcadores de página, colares e bonecas de sereia e sereio, atualmente, seus produtos mais queridos.
Para produzir, elas começam selecionando o desenho dentre o acervo construído ao longo de dez anos de existência do grupo. Os desenhos são das próprias artesãs: peixes, sereias, flores, pescadores, cenas da praia, boleira, frutas entre outros. Transferidos para o tecido com ajuda do papel carbono ou da mesa de luz, os traços começam a ganhar vida e cores através das mãos das bordadeiras, que empregam vários pontos, como corrente, haste, atrás, aresta, espinha de peixe, nó francês, alinhavo e rococó. Bordados que preenchem horas, às vezes dias, que são transcorridos na sede do grupo ou em suas próprias casas.
Após finalizadas, as peças são conferidas em sua qualidade e etiquetadas. Cada peça contém o nome de quem a bordou, assim como o nome do grupo Bordazul.
Sobre quem cria
O grupo produtivo atualmente composto por 18 mulheres começou sua história nas oficinas ministradas entre 2013 e 2015 no SESC Guaxuma, litoral norte de Maceió (AL), pela parceria Nós do Bordado, composta por Gianinna Schaeffer Bernardes e Lúcia Galvão. As oficinas propunham o bordado livre de forma integrada com a literatura, a poesia, a música, como forma de expressar histórias e memórias das mulheres e seus territórios. Integravam o projeto Conversando sobre Saúde, que desenvolve atividades gratuitas de saúde e bem-estar para mulheres da cidade e, posteriormente, passaram a integrar o projeto Diálogos em Artes Visuais da área de cultura do SESC Alagoas. Desde então a coordenação do grupo foi assumida por Gianinna Schaeffer Bernardes.
Em 2016 nomeia-se como Bordazul, desvinculando-se paulatinamente dos projetos anteriores e ganhando autonomia. As mulheres tinham muito para contar e bordar e não pararam mais!
Além das inspirações do bairro, as mulheres também bordam a tradição do Folguedo Baianá. Uma das artesãs é mestra na tradição do folguedo, uma manifestação popular e folclórica que combina elementos das culturas indígena, negra e europeia. Os estudiosos afirmam que as manifestações surgiram nas colônias, da relação entre as datas de celebração litúrgica, católica, com a cultura popular. São manifestações coletivas, com elementos teatrais e personagens definidas, que dançam e cantam com uma indumentária própria para a celebração, que se assemelha a uma peça dançada. No caso do folguedo Baianá, do qual participam as artesãs do Bordazul, as apresentações são protagonizadas pelas artesãs, que tocam instrumentos de percussão, cantam as letras em prosa e dançam com o figurino que elas próprias bordaram. As apresentações são um espetáculo de cores, sons e dança do qual somos convidados, com todos os sentidos, a participar.
O termo brincar baiana é a forma com que se referem as participantes desse folguedo; muito possivelmente isso se deva ao fato de existir liberdade de improviso nas músicas. A Mestra que puxa o canto e direciona o grupo com um apito, muitas vezes é a criadora dos versos, que trazem situações vividas no cotidiano de seu território. A maior marca do Baianá é a alegria!
O grupo já participou de várias exposições, mostras e intercâmbios com outros grupos de bordado do Brasil e do exterior. Produziram painéis para a exposição Tesouros Bordados (2015), na galeria do Sesc Centro de Maceió. Os painéis produzidos para a exposição são uma leitura poética do cotidiano das mulheres e foram bordadas no Sesc Gaxuma, onde o grupo se encontrava para fazer oficinas. Nessa época, o grupo ainda não existia como coletivo produtivo.
Em 2016, já como Bordazul, realizaram o projeto No Tacho do Riacho, no qual realizaram entrevistas com personagens marcantes do bairro. A partir das entrevistas, produziram lindos painéis bordados com um retrato e trecho da entrevista. Algumas das pessoas entrevistadas já faleceram, assim os painéis registram sua memória e prestam homenagem.
Em 2018, quando receberam assessoria do designer em artesanato Renato Imbroisi, foram convidadas a participar da exposição A Casa Bordada, no CRAB (RJ), com painéis de autorretratos das bordadeiras.
Também em 2018 fizeram um intercâmbio de postais bordados com um grupo de bordadeiras de Paraty (RJ), os Postais Cartografias do Afeto, com os quais participaram da exposição Bordados Poéticos, no Sesc Santa Rita, em Paraty (RJ).
Em 2019, também a convite de Renato Imbroisi, participaram da exposição Linha do Mar, no Rio de Janeiro, com um guarda-sol repleto de sereias coloridas bordadas.
Atualmente tem sua sede, uma casinha de portas e janelas azuis, no Riacho Doce. Lá se encontram diariamente para trabalhar e mantêm a casa aberta para receber a visita de pessoas que buscam o Bordazul como referência em arte e saúde, visitantes e clientes.
Sobre o território
O Riacho Doce, bairro cheio de histórias, é o tema principal dos bordados no Bordazul, e lhe inspirou também o nome: o ‘borda’, vem de bordado, da borda do mar, e ‘azul’, da cor do mar das praias de Riacho Doce e do céu azul de Maceió. O encanto pelo bairro não é por acaso: a cerca de 30 minutos de distância do centro de Maceió, o antigo bairro de pescadores tem praias paradisíacas, de um mar muito azul e areias brancas, sendo conhecido por sua produção de doces tradicionais feitos à base de mandioca e coco. Com cerca de 6.000 habitantes (IBGE, Censo 2010), o bairro nasceu como parada de descanso de viajantes que atravessavam a cavalo o estado, com destino a Maceió. O local era atrativo aos viajantes por possuir riachos com água doce e cristalina, que cortam o bairro e deságuam no mar. Um local de riachos de água doce, daí advém o nome do bairro.
No início do século XX, o bairro serviu de inspiração para o escritor José Lins do Rego, que escreveu Riacho Doce (1939), no qual homenageia as belas paisagens naturais e a rica vida cultural: “A noite havia pastoril, reisado, chegança. O Riacho Doce era feliz, próspero”.
A casa de farinha, na rua atrás da igreja principal do bairro, é o local onde antigamente se processava a mandioca, dando os insumos para os bolos, beijus e outras delícias produzidas pelas famosas boleiras do bairro. Atualmente, algumas casas de farinha e boleiras mantêm viva essa tradição da produção de doces e alimentos a partir da mandioca, que tem mais de um século.
A Igreja da Nossa Senhora da Conceição tem uma origem controversa, alguns dizem que foi construída pelos holandeses, outros, pelos portugueses que eram devotos da santa.
As principais atividades econômicas do bairro são a pesca, praticada de forma artesanal e tradicional, a produção de bolos e doces e o turismo. O Bordazul, com sua atividade artesanal dia a dia mais conhecida, passa a se tornar também um fazer tradicional.