Carlos Antonio da Silva
Fruto de um processo primitivo, ainda rústico, sem maquinário, preservado, Carlos modela no barro um imaginário trazido da roça, do tempo em que morava com os avós. A beleza de seu trabalho transcende forma e função, atinge o auge no processo.
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Sobre as criações
Fruto de um processo primitivo, ainda rústico, sem maquinário, preservado, Carlos modela no barro um imaginário trazido da roça, do tempo em que morava com os avós. A beleza de seu trabalho transcende forma e função, atinge o auge no processo. A matéria-prima, ainda é toda preparada na mão. A argila mais escura, própria da região, já beneficiada, às vezes ainda tem que ser socada manualmente. A queima é feita em forno a lenha, o que exige muita técnica: Carlos chega a ficar até 24 horas em frente ao forno, sem sair dali. Para que a peça não se queime e não se quebre. “Dia de queimar as peças você tem que tirar o dia só praquilo, não pode parar a queima, não pode ter nada extra-forno. Você não pode marcar mais nada, fazer mais nada. Tem que avisar todo mundo que não vai poder atender”. Um ritual, uma cerimônia, espécie de culto, quase um retiro. Sim, existe forno elétrico, a gás, mas torna a queima muito cara. O resultado são peças regionais, arte cotidiana sertaneja. Únicas. De inegável valor cultural. Nelas, conta sua própria historia. Transfere para a cerâmica o que viveu na vida. “Eu conto toda a historia pra pessoa que observa. Os meninos de hoje não sabem o que é uma roda de fiar”. Seu trabalho cumpre esse papel, faz esse registro, preserva a história, a transporta adiante, para as próximas gerações.
Reféns de uma localidade com turismo insignificante, onde a população não reconhece seu valor, suas obras dependem de viagens para outros estados para serem apreciadas e adquiridas por um público consumidor dessa arte. Carlos atende clientes particulares, lojistas e participa de feiras nacionais, um impulso comercial significativo. Mas de dois anos pra cá as coisas estão mais difíceis e o trabalho vem ocupando o segundo plano. O mestre está sendo levado a buscar outras ocupações para se manter. Depende de outras rendas, não vive exclusivamente de sua arte. Teve que reduzir os preços (em até 50%), quando algumas peças já tinham alcançado o difícil patamar de um preço justo.
Sobre quem cria
Carlos Antonio da Silva é apontado como o maior ceramista vivo de Goiás. Suas obras fazem parte do acervo do PAB (Programa do Artesanato Brasileiro) desde 2010, por quem foi reconhecido mestre-artesão em 2017. Quando criança, na família, ninguém se dedicava a arte. Ele, um menino da roça, que nas férias ia para a cidade. Por instinto, foi se aproximando da arte. Mexer com a argila, no barranco do barreiro. Desenvolveu panelinhas, coisinhas pra brincar e a meninada, os primos, admirados. Desenhava, pintava… Estava sempre com as galinhas, cuidando, dando comida, e elas tinham o hábito de irem bicando e comendo a parede da fazenda. Disso iam surgindo desenhos. Para o menino de poucos anos eram como paisagens. Todo o estrago que elas provocavam eram, aos seus olhos, desenhos. Ele dava continuidade aos “traços” que elas iniciavam. O pai perguntava o que era aquilo, mas permitia que continuasse. E aos poucos Carlos foi se enveredando para o desenho e pintura. O pai intercalava elogios e broncas. Carlos tinha na época 8 anos.
Na escola, enfurecia professores que teimavam em ensinar sobre números e letras a uma criança que desejava artes. Já na vida adulta, o dever de trabalhar e produzir renda o conduzia a outros caminhos. Por décadas adiou seu sonho de criança em se tornar artista. Mas a arte seguia com ele e em certo momento da vida adulta pensou que era hora de se dedicar ao que realmente gostava. “Parar de perseguir dinheiro e ir em direção da minha arte.” Foi há 20 anos atrás, aos 35. Quando então conheceu um empresário na cidade que tinha uma indústria e o convidou para realizar desenhos para a produção de esculturas. Trabalharam seis anos juntos. Depois, passou a trabalhar sozinho. O dia a dia é árduo, solitário. Um ofício em risco. “Infelizmente os jovens de hoje não se interessam. Eles tem um mestre disponível, coisa que eu não tive, mas não se interessam”. Carlos se esforça e preza em repassar seu saber. Dá oficinas pra crianças, jovens, idosos, sempre convidado pela PUC e outras escolas.
Sobre o território
Natural de Aragoiânia, interior de Goiás, antiga região de parada de gado. A primeira missa do povoado, foi celebrada em 1940, quando havia meia dúzia de casas no local. E é nesse cenário de passado recente que Carlos delineou sua arte ao longo da vida. Em uma parte de sua casa fica seu espaço de trabalho e criação. Um pequeno atelier. Lá também expõe peças prontas. Assim o artista que se desvendou lá na infância da roça, mesmo sem um horizonte favorável, persiste e resiste em manter sua arte viva.