Mostrar contatos
AbrirFechar
Os contatos devem ser feitos preferencialmente via Whatsapp.
A Artesol não intermedeia relações estabelecidas por meio desta plataforma, sendo de exclusiva responsabilidade dos envolvidos o atendimento da legislação aplicável à defesa do consumidor.
Sobre as criações
A barafunda é um tipo de bordado quase esquecido, feito em um tecido previamente desfiado e possui semelhanças com o crivo, o labirinto e a bainha aberta. Sua origem é incerta, mas acredita-se que foi inventada no Brasil por mulheres negras escravizadas a partir da reapropriação de técnicas de bordado europeias. Contam que a barafunda era utilizada para substituir a renda, um material muito caro e que, em alguns períodos da história, teve seu uso restrito a pessoas das mais altas camadas sociais.
No candomblé, a barafunda tem uma grande importância cultural e simbólica. Em alguns terreiros ela adorna os trajes dos santos e das pessoas que ocupam os cargos mais altos, ou que já concluíram os sete anos de obrigação. Por isso, as bordadeiras e bordadeiros de barafunda possuem estreitas relações com terreiros, principalmente da capital baiana, Salvador.
O trabalho do bordado começa com o desfiamento horizontal e vertical do tecido, formando um mosaico com quadradinhos vazados que se intercalam com quadradinhos cheios. Para manter a integridade do tecido, as bordas da área desfiada são finalizadas com o ponto dente de cão, mais conhecido como caseado. O mosaico é, então, preenchido com um único ponto repetidamente, formando um padrão.
Existem mais de 40 pontos de barafunda, mas não é possível combiná-los em uma determinada área desfiada. Os pontos recebem nomes que muitas vezes remetem à natureza e a objetos da cultura afro-brasileira: flor de abóbora, roda de quiabo (planta de origem africana), espírito, semente de malva, fundo de balaio, percevejo e um dos mais tradicionais, o ponto asa de mosca.
Assim como outras técnicas têxteis, executar o bordado barafunda exige raciocínio matemático. O trabalho é minucioso e demorado. Bordando o dia todo, são necessários cerca de cinco meses para concluir uma saia baiana, com 5 metros de pano.
Nos últimos anos, o bordado barafunda tem passado por um processo de resgate a partir de cursos e oficinas realizados em Salvador. Uma figura central nesse movimento é a Mestra Makota Damuraxó Itana Neves, que tem formado um significativo número de bordadeiros. Outro aspecto relevante é a aplicação da barafunda em peças de uso não-religioso, como roupas comuns e utilitários para casa: toalhas, mantas, jogos americanos e roupas de cama. Essa ampliação tem proporcionado uma alternativa de renda aos artesãos e a perpetuação desse bordado tão importante para a identidade do povo de origem afro-brasileira.
Sobre quem cria
Carlos Vinícius Pereira dos Santos começou a bordar barafunda por volta de 2018, quando foi iniciado no Candomblé em Cachoeira, na Bahia. Aprendeu a bordar com a Mestra Makota Damuraxó Itana Neves com a intenção de produzir seus próprios trajes, mas conhecidos começaram a se interessar e aos poucos passou a receber encomendas. Hoje, possui clientes em vários estados, principalmente do Rio de Janeiro e de Salvador.
Ele chega a bordar 12 horas por dia. Apesar de avaliar ser muito difícil viver apenas da renda do bordado, Carlos acredita que está perpetuando uma arte tradicional muito importante que corre o risco de se perder. Além disso, se sente muito honrado em produzir peças para grandes festas, pois é uma honra vestir um orixá.
O artesão, que faz parte de uma nova leva de bordadeiros, tem planos de oferecer oficinas de barafunda, além de ampliar sua produção com a contratação de outras bordadeiras.
Sobre o território
Salvador é a capital do estado da Bahia. Seu nome é um encurtamento de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, uma referência à Jesus, o salvador na fé católica trazida pelos colonizadores portugueses, e ao local onde está, a Baía de Todos-os-Santos. Umas das mais antigas cidades da América, foi fundada em 1549 e funcionou como a capital do Governo Geral até o ano de 1763.
Principalmente nos séculos XVIII e XIX, recebeu um grande contingente de negros escravizados trazidos de diferentes partes do continente africano. Esse longo e triste período da história reflete nas características populacionais da cidade até hoje. Mais de 80% da população de Salvador é autodeclarada negra, o que a torna a capital mais negra do Brasil.
Essa herança deu origem a religiões de matriz africana identificadas por nações, como a Ketu, Angola, Jeje e Ijexá, que possuem particularidades em seus rituais e vocabulários. A religião tem um importante papel nas dinâmicas espaciais e culturais da cidade. Um mapeamento realizado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia registrou, somente em Salvador, 1.165 terreiros de candomblé.