José Francisco Afrânio Lima
As obras de José Francisco testemunham sua familiaridade com a madeira e com a cultura popular do sertão alagoano.
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Sobre as criações
As obras de José Francisco testemunham sua familiaridade com a madeira e com a cultura popular do sertão alagoano. As esculturas têm de 50 cm a 1 metro de altura, retratam santos e santas católicos, animais diversos, figuras dos folguedos e das festividades locais.
Os folguedos são uma manifestação popular e folclórica que combinam elementos das culturas indígena, negra e europeia. Os estudiosos afirmam que as manifestações surgiram nas colônias, da relação entre as datas de celebração litúrgica, católica, com a cultura popular. São manifestações coletivas, com elementos teatrais e personagens definidas, que dançam e cantam com uma indumentária própria para a celebração, que se assemelha a uma peça dançada.
Assim, os personagens do Guerreiro e do Reisado são imortalizados em cores e formas nas esculturas de José. Encontramos também São Jorge e o Dragão, uma batalha travada de diferentes formas – com o dragão nas costas de São Jorge, ou sob seus pés, às vezes substituído por uma cobra.
Trabalha com madeiras nobres – jaqueira, cedro e imburana. Busca utilizar madeiras mortas, e dá o devido tratamento às madeiras verdes para que não deem bicho e que durem muitos anos.
José Francisco conta que sua primeira escultura foi uma banda de pífano, inspirada na banda que tocou com seu avô quando criança. Entalhou a banda inteira – zabumbeiro, pifaneiro, prateiro, tamborzeiro e cacheiro. Ele começou a entalhar as peças no seu tempo livre, e a obra demorou 3 meses para a banda ficar pronta. Vê-la pronta lhe provocou tamanha satisfação que ele decidiu continuar a aprofundar sua relação com a madeira e continuar entalhando. “De lá pra cá não parei mais. Minha vida é trabalhar na arte”, ele conta.
Sobre quem cria
Nascido em Lagoa da Canoa, sua relação com a arte começou quando ainda era criança. Ele começou no barro, tinha uma vizinha ceramista, que fazia louças. José gostava de fazer bonecos para brincar com os amigos, assim criava gatos, cachorrinhos e outros bichos. Com o tempo a ceramista deixou de morar lá, mas a presença da arte e das festividades sempre permearam sua vida. Seu avô tinha uma banda de pífanos, na qual José tocava. Sua avó participava de um grupo de Pastoril – uma das manifestações dos Folguedos. Ela fazia as roupas à mão. Perto havia um vizinho que fazia os chapéus do Guerreiro – ricamente adornados com pedaços de vidro. “Ele fazia as colas, com farinha e água, ele fazia o grude. Eu ficava do lado dele, vendo colar os vidros nos chapéus, ficava muito lindo”. A presença perene da cultura na casa e na vizinhança continuaram com ele, inspirando suas obras até hoje.
Após crescido, José foi trabalhar na roça, em plantação de mandioca, feijão, fumo e milho. Em 2012, se mudou para o Paraná para trabalhar em um frigorífico. Mesmo distante, ele acompanhava as produções dos artistas da sua terra, muitos deles trabalhavam com entalhe em madeira. Inspirado pelas produções que acompanhava e por suas memórias, ele decidiu tentar cravar na madeira aquilo que recordava da infância, do tempo em que brincava com o barro. A oportunidade surgiu quando encontrou na rua onde morava no Paraná alguns resíduos de podas de árvores, vários tocos de madeira. Um dia, ele pegou um toco e decidiu trabalhar, comprou as ferramentas básicas, enxó, lixa e um escopo e durante três meses esculpiu uma banda de pífano, como aquela que tocara com seu avô quando pequeno. Assim que finalizou, pintou os sapatinhos que usavam na época e anunciou a produção em sua rede social. A peça foi vendida rapidamente, e José percebeu que poderia gerar uma renda extra com a sua produção.
Em 2015 voltou com sua família para Lagoa da Canoa e desde então se dedica exclusivamente ao entalhe em madeira. Trabalha diariamente, com exceção apenas do domingo. Recebe encomendas frequentemente e se diz feliz de viver da sua arte.
“Eu gosto muito, muito mesmo do meu trabalho. Tento fazer o meu melhor. Quando faço uma obra eu me vejo nela”.
Sobre o território
Lagoa da Canoa é uma cidade do agreste alagoano, situada a 150 km da capital, Maceió, próxima de Arapiraca. A cidade surgiu às margens de uma pequena lagoa, em 1842, quando dois casais chegaram à região e decidiram construir suas vidas ali, plantando e criando gado.
Outras famílias, anos depois, também começaram a construir no local – já conhecido como Lagoa da Canoa – nome que se originou devido aos antigos moradores que pescavam de canoa na região
Desde sua fundação, o município é marcado pela agricultura, sendo ainda hoje muito presente a cultura da roça e da cerâmica tradicional. É conhecida como a terra do músico Hermeto Pascal e também abriga outros artistas que trabalham na arte da madeira: Mestre Raimundo, o já falecido Antônio de Dedé, e seus filhos que dão continuidade ao seu legado, Antônio José de Dedé e Adailton de Dedé.