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Benício


Com obras que chegam a 4 metros de altura, Luiz Carlos da Silva esquiva-se da obviedade figurativa. Seu trabalho é marcado por uma rusticidade pouco evidente, de traços fortes e expressivos.

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Vale do Catimbau, Buíque – PE

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Sobre as criações

Um dos impulsos de seu reconhecimento como mestre e artista popular é a impermanência de suas criações. Ao perguntar a Benício quantas obras já fez: “Talvez mais de mil”. Únicas, singulares. E para driblar o aperto, a dificuldade em vender, seguia criando: santos, depois cactos, em seguida formigas, e aí animais, cangaceiros, depois cabeças. Autodenomina seu trabalho “Projeto Madeira Viva”. Benício não corta árvores, trabalha apenas com reaproveitamento. Sempre duas espécies: a umburana, típica do sertão nordestino, e a jaqueira, que mesmo não sendo do bioma, o mestre só retira com a árvore já morta. Com obras que chegam a 4 metros de altura, esquiva-se da obviedade figurativa. Seu trabalho é marcado por uma rusticidade pouco evidente, de traços fortes e expressivos.

Crédito da foto: Lais Domingues

Crédito das fotos: Lais Domingues

Sobre quem cria

Não sabe de onde começou essa mania de chamá-lo de Benício. Luiz Carlos da Silva não teve formação acadêmica. Como filho de agricultor, com muito pouco jogo de cintura na lida com a terra, e de origem muito humilde, ficava migrando, em busca de trabalho. Lá pelos anos 2000, vivendo de adversidade, certo dia decidiu tomar o tempo infrutífero e, ao acaso, esculpir um tatu. Um vizinho tinha tentado, sem muito sucesso. Ofereceu sugestões a ele, que não as seguiu. Foi então que decidiu ele mesmo produzir o animal sugerido ao amigo. E deu certo. Ficou tão bom que ele passou três ou quatro meses só produzindo tatu. O vizinho, amigo de ofício, era Zé Bezerra, hoje consagrado artista popular. Em seguida Benício tentou esculpir figuras humanas. E daí por diante não parou mais. Seguiu na temática da fauna local, e ampliou para a cultura: do curtume, do nordestino, da mulher com balde d’água na cabeça, e de toda a historia que viu e viveu quando criança. 

Crédito da foto: Renan Quevedo

Premiado no Brasil e fora, suas obras foram vendidas e expostas em mais de 34 países. Foi reconhecido como mestre pelo Governo do Estado de Pernambuco. Através da curadoria de Marco Aurélio Pulchério compôs a galeria de arte popular da telenovela A Lei do Amor da Rede Globo: “Talvez se Marco não aparecesse nesse momento, eu não tivesse fazendo tudo o que eu faço hoje”. Benício hoje vive bem, exclusivamente de sua arte. A esposa Simone, três cunhados e um filho seguem seu legado. “Tudo que tenho hoje: a área que moro, a casa, o carro, a ferramenta, a panela, o arroz, o feijão, é tudo por causa da arte”. Do tempo de menino, de quando faltava comida na mesa, ficam as lembranças de ter sido sempre um admirador da arte: acompanhando o pai no trabalho em uma olaria, brincava batendo tijolos, fazendo carrinho, montando coisinhas no barro, enrolando pra fazer coisa de criança. 

Sobre o território

Entre o Agreste e o Sertão pernambucano, o Vale do Catimbau conta com sítios arqueológicos, grutas, cemitérios pré-históricos e pinturas rupestres com mais de seis mil anos. Onde troncos e pedaços disformes de madeira morta se insinuam ao mestre artesão. Em seu ateliê simples, a céu aberto, em uma área de 30 mil m² fez uma casinha e uma cobertura e trabalha embaixo de um pé de caju. Sonha em fazer um belíssimo museu a céu aberto: que promova o interesse das pessoas pela arte, onde ele possa transmitir seu conhecimento, e venham multiplicadores de seu trabalho.

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