Maria Helena Duarte da Costa
A artesã trabalha com uma diversidade de fibras naturais, como a taboa, a bananeira, a palha de milho crioulo, a palha de butiá, o cipó e a inusitada fibra de costela de adão. Com essas matérias-primas, Maria Helena trança uma infinidade de objetos.
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Sobre as criações
“O artesanato não existe sem uma grande comunidade”.
É com essa frase que Maria Helena explica como obtém as matérias-primas para seus trançados. A taboa, a bananeira e o milho crioulo são cultivados em sua terra. Mas outros materiais, como a palha de butiá, o cipó e a inusitada fibra de costela de adão, são coletados com a ajuda de vizinhos.
Com essas fibras, Maria Helena trança uma infinidade de objetos. Cestos com formatos diversos, como galinhas e patos, chapéus, bolsas, tapetes, chinelos, luminárias, revisteiros… Tudo que sua imaginação permite criar com o entrelaçamento das fibras. Também faz crochê com a fibra de bananeira, que dá forma a bolsas e toalhas de mesa.
O colorido das fibras é natural. Da palha do milho crioulo consegue diversos tons de roxo, de rosa e o branco. A taboa possui, naturalmente, uma cor mais branca e outra esverdeada. Maria Helena realiza o corte da planta de forma que as duas cores possam fazer parte das peças. Já as fibras da costela de adão adquirem nuances na tonalidade dependendo do método de secagem.
Sobre quem cria
Maria Helena é filha de mãe negra e pai indígena. Além de artesã, é agricultura orgânica e trabalha como cuidadora. Vive próximo ao Quilombo Vó Ernestina no município de Morro Redondo, no Rio Grande do Sul. Tem lembranças de infância da mãe fazendo cestinhas, pois seu avô paterno produzia muitos objetos trançados, principalmente com cipó. Esses conhecimentos de sua família acabaram se perdendo e Maria não chegou a aprendê-los.
Por volta de 2007, uma amiga e funcionária da Emater viu um cestinho feito pela mãe de Maria Helena e perguntou se ela nunca havia se interessado por aprender trançado. Nessa época, Maria Helena estava muito deprimida devido a perda dolorosa da irmã. Na tentativa de ajudá-la a superar essa fase difícil, sua amiga a matriculou em um curso de trançado oferecido pelo SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) no município vizinho de São Lourenço do Sul. Maria Helena ficou mais de 15 dias em São Lourenço e aprendeu a trabalhar com diversos tipos de fibras.
Quando começou a trançar, ela e seu marido estavam desempregados. O artesanato foi uma importante fonte de renda nesse momento de dificuldade, em que vendia principalmente tapetes de fibra de bananeira. Na época, trabalhava até de madrugada fazendo peças. Atualmente, com o dinheiro do artesanato ajuda duas filhas a cursarem a faculdade como bolsistas. Para Maria Helena, ver as filhas completando o ensino superior é uma conquista muito grande, pois ela parou de estudar na segunda série.
Maria Helena faz um emocionante trabalho de resgate familiar e cultural. É uma pesquisadora dedicada, investigando diferentes fibras e técnicas. Domina com maestria vários tipos de trançado e aprendeu a fazer chapéus sozinha, por tentativa e erro. Com suas mãos habilidosas e seu carinho, entrelaça memórias soltas, que poderiam se perder. As de sua comunidade, reavivando a cultura negra e os modos de fazer quilombolas, e as memórias de sua mãe, seu pai e de seu avô.
Sobre o território
O quilombo Vó Ernestina está localizado no município Morro Redondo, na região da Serra do Tape, no estado do Rio Grande do Sul. Foi certificado em 2010 pela Fundação Cultural Palmares, que possui as atribuições de regulamentar o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombo.
A comunidade quilombola Vó Ernestina é composta por 20 famílias que vivem em 20 hectares de terra e possui características urbanas e rurais. A maior parte das famílias vive em terrenos urbanos e têm como fonte de renda o trabalho em comércios e em um abatedouro de aves de Morro Redondo. As famílias que vivem em área rural são agricultoras, cultivam milho, feijão e criam poucas cabeças de gado em propriedades que variam de 2 a 3 hectares. Próximo ao quilombo vivem outras famílias que possuem uma forte ligação histórica, cultural e familiar com a comunidade, como é o caso de Maria Helena.