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Marivaldo Sena da Costa


Marivaldo, terceira geração de ceramistas da família é guardião das técnicas da cerâmica Paracuri, além de ser referência na produção de peças cerâmicas arqueológicas de diferentes fases das sociedades indígenas que viveram na região amazônica entre 400 e 1300 anos atrás, como a marajoara, tapajônica e santarena.

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Sobre as criações

A cerâmica Paracuri começou a ser produzida na década de 1960, quando peças arqueológicas marajoaras passaram a inspirar ceramistas da comunidade de mesmo nome, localizada no distrito de Icoaraci de Belém, capital do Pará. Sua principal característica é a combinação de elementos marajoaras, como desenhos e grafismos repetidos, geométricos e simétricos, em alto e baixo relevo com novas formas e desenhos inventados pelos artesãos. Esse estilo é, assim, fruto da criatividade dos artesãos que aliaram e ainda aliam tradição à inovação, pois a cerâmica Paracuri não para de se reiventar.

Além da cerâmica Paracuri, Marivaldo é referência na produção de peças cerâmicas arqueológicas de diferentes fases das sociedades indígenas que viveram na região amazônica entre 400 e 1300 anos atrás, como a marajoara, tapajônica e santarena.

Diferentemente da cerâmica Paracuri, cuja produção é feita de forma seriada usando torno e tintas sintéticas, Marivaldo confecciona as peças arqueológicas seguindo as mesmas técnicas utilizadas por essas antigas sociedades. Os vasos, por exemplo, são modelados por acordelado, sem o auxílio do torno. Essa técnica consiste na sobreposição de rolos de argila em forma de anel ou espiral, que depois são alisados e recebem outros elementos, como figuras animais. Da mesma forma, as tintas são sempre naturais.

Sobre quem cria

Marivaldo é o ceramista da terceira geração de sua família. Seus avós começaram a trabalhar com a técnica em 1971. Sua mãe era e ainda é desenhista e seu pai deixou de ser cozinheiro de barco para trabalhar com a família quando percebeu que a atividade dava dinheiro.

Marivaldo começou a fazer cerâmica brincando, como era costume na região. Ainda criança, estudava meio período e no outro trabalhava na olaria. Com 12 anos já fazia acabamentos e sabia desenhar os grafismos, aos 14 aprendeu a usar o torno e com 15 já dominava todas as etapas da técnica.

No final da década de 1990 teve contato com a cerâmica arqueológica. Suas primeiras peças desse segmento foram feitas com base em conhecimentos adquiridos em livros e a partir da observação de peças de Mestre Cardoso. Em 2016, foi convidado, junto a outros quatro artesãos, a fazer parte do projeto “Replicando o passado” do Museu Paraense Emílio Goeldi.

O projeto garante o acesso dos artesãos ceramistas à Reserva Técnica e tem o objetivo de replicar obras do acervo, produzindo duas cópias: uma para ficar no Museu e outra para ser levada à Paracuri, onde é guardada na casa de Marivaldo. A intenção é que essas peças armazenadas na comunidade funcionem como referência para que os artesãos ampliem suas possibilidades de produção. Os participantes assinam um acordo com o Museu assumindo o compromisso de não replicar nada que não seja nos termos originais, utilizando inclusive as técnicas da época. Por sua participação nesse projeto, Marivaldo se tornou referência na produção de peças do segmento arqueológico.

Em sua olaria trabalham oito pessoas, ocupando diferentes funções: oleiro, preparador de argila, desenhista, pintor de engobe, nicador e embalador. Entre elas, sua esposa e mãe são pintoras e desenhistas e a filha é responsável pela divulgação da loja na internet. Apesar da importância cultural e econômica da cerâmica para Paracuri, Marivaldo avalia que está cada vez mais difícil encontrar profissionais qualificados para trabalhar na produção cerâmica, o que ameaça a continuidade da tradição em sua família e na comunidade.

Marivaldo Sena da Costa / Crédito das fotos: Daphne Anton

Sobre o território

A comunidade de Paracuri é herdeira de diferentes tradições ceramistas: das sociedades da América pré-colombiana, dos povos indígenas e das olarias instaladas por religiosos europeus no período da colonização.

Os ceramistas contam que, na década de 1960, Mestre Cabeludo começou a aplicar desenhos inspirados nos grafismos das peças arqueológicas marajoaras que conheceu em um livro. Deu início, assim, a cerâmica Paracuri.

Pela mesma época, Mestre Cardoso visitou o Museu Paraense Emílio Goeldi em Belém e ficou fascinado com as peças arqueológicas amazônicas. Desde esse encontro, dedicou mais de 30 anos de sua vida a estudar a arqueologia da região. Conseguiu, por meio de um conhecido que trabalhava no Museu, ter contato com os objetos para desenvolver seu projeto de criação de réplicas.

A partir do trabalho de Mestre Cardoso, muitos ceramistas de Paracuri começaram a produzir peças que ficaram conhecidas como  “segmento arqueológico”. Depois dele, nenhum outro ceramista tinha tido acesso aos objetos guardados pelo Museu até a criação do projeto “Replicando o Passado”.

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