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Sobre as criações
Micaella é artista e artesã recifense, que mergulhou na cerâmica e com ela tem criado uma forma própria de expressão artística. Mantém um ateliê que produz peças utilitárias e uma linha artística, os Cubos.
Uma artesã e pesquisadora da cerâmica, ela tem um amplo repertório dessa técnica, tanto de alta quanto de média temperatura. Desenvolveu duas linhas de cerâmica utilitária: a linha Porongo e a Viva Nordeste, com peças utilitárias e decorativas de cerâmica de alta temperatura, vitrificada.
Porongo é uma palavra da língua Quíchua que quer dizer “vaso de barro de gargalo estreito e comprido”. O formato das peças dessa linha lembra a cabaça, uma forma que a artista encontrou de resgatar as suas memórias afetivas. Assim, cria cumbucas, pratos, gamelas e peças decorativas inspiradas nessas formas.
Já a segunda coleção, Viva Nordeste, é composta por peças utilitárias, como xícaras, copinhos, pratos e cumbucas, inspiradas no Maracatu, no Mangue – e no movimento Mangue Beat, no casario colonial recifense, assim como nas exuberantes fauna a flora pernambucanas.
Para as linhas utilitárias, utiliza massa cerâmica profissional, sova a argila para tirar todo o ar, depois modela manualmente as peças com as técnicas da placa e do torno – as xícaras são feitas no torno. Depois de torneadas, as alças são fixadas e os acabamentos feitos à mão. Após secas, as peças são levadas ao forno à 1000º C, para a queima de biscoito. Quando saem do forno, as peças esfriam e são então desenhadas à mão livre, com base nos desenhos que ela mantém em um caderno, com a ajuda da técnica da corda-seca para marcar os desenhos e separar as áreas esmaltadas. Nessa técnica, as áreas de desenho, que são esmaltadas, são separadas por grafite, que impede que os esmaltes se encontrem. Quando vão ao forno, para a segunda queima, o grafite queima e desaparece, deixando a argila da peça à mostra. O efeito produz peças coloridas, com os desenhos que homenageiam a cultura, a fauna e arquitetura do seu estado.
Já em sua linha artística, ela produz os Cubos, que consiste em peças em formato de cubo, com 6 lados esculpidos com diversas expressões que remetem a sentimentos. Cada cubo é único, produzido a partir do que a artista busca transmitir. Os cubos são produzidos através das placas, que passam pela montagem, secagem e a impressão das expressões. Eles são queimados em uma temperatura média, cerca de 1000º C, e não são esmaltados, preservando a cor natural da argila.
Sobre quem cria
“O mais importante de tudo que eu passei, foi o aprendizado, foi a trajetória, a construção – os erros, os acertos, mais do que a obra pronta”.
Micaella é uma artista jovem, mas que já tem mais de 18 anos em sua trajetória artística e artesanal. Nascida na comunidade do Alto Santo Terezinha, na zona norte de Recife/PE, em uma família onde a presença da música e da cultura foram constantes. Um de seus tios é musicista, confeccionava os próprios instrumentos, sendo hoje professor de percussão. O pai, por sua vez, sempre foi habilidoso nos fazeres manuais, tocava em uma banda e por isso a música permeava a vida da família.
Quando tinha cerca de 12 anos, começou a participar de atividades artísticas da Organização Não-Governamental Casa Menina Mulher voltadas a preparação de meninas e mulheres para o mercado de trabalho. Lá, ela fazia pintura de temas da cultura brasileira em tecido. Com o tempo, ela passou a querer mais do que apenas pintar, conta: “Eu só pintava, mas chegou um dia em que isso me incomodava. Eu queria aprender a desenhar”.
Foi então que indicaram o curso de desenho oferecido pela ONG Pró-Criança. O curso Jovem Artesão era voltado ao aprendizado de várias técnicas, dentre elas a cerâmica. No campus Os Coelhos, onde estava fazendo o curso, as aulas eram mais voltadas à cerâmica utilitária através da modelagem manual, abrangendo as técnicas das placas, bola oca, baixo relevo e vitrificação. Nesse ambiente, ela aprendeu, experimentou, testou, errou. Aos poucos foi encontrando um caminho, artístico e profissional, com o qual se identificava. “Esse projeto foi importante porque ele me deu um norte, ele me abriu os horizontes para o que eu queria fazer da minha vida. Conheci artistas renomados (como Renato do Vale), comecei a ampliar meu olhar artístico e sensorial”.
Em 2014 ela ingressou no curso de artes visuais no Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), campus Olinda. Conta que ali ela viu na teoria aquilo que já conhecia na prática, e que foi assim aumentando seu repertório.
Assim que se formou, passou a trabalhar na ONG Movimento Pró-Criança, foi se tornando, além de artista, professora e arte-educadora. Passou 9 anos dando aulas para crianças, jovens e adultos.
Entre 2018 e 2019 foi convidada para ministrar o curso de cerâmica no Museu do Estado de Pernambuco. Em 2019 realizou a exposição coletiva SENTIMENTOS, no Museu do Estado de Pernambuco, com os resultados do curso e algumas obras de sua autoria. Em suas obras, os Cubos, trouxe os quatro elementos da natureza, que são responsáveis pela transformação do barro em cerâmica: água, terra, ar e fogo.
Fechou o ciclo como arte-educadora na ONG Movimento Pró-Criança, pois ela queria alçar outros voos e abrir seu próprio ateliê, o que aconteceu em 2020.
Quando abriu seu ateliê, havia estudado outros movimentos artísticos, estava empolgada, “eu vim fervilhando de ideias”. Ela comprou muito equipamentos, tornos e materiais, mas ainda não tinha um local para o ateliê.
Em uma feliz coincidência, uma de suas alunas era coordenadora do Colégio Vera Cruz e contou que lá havia espaços comuns, as lavanderias antes utilizadas pelas freiras, que estavam desocupados. Micaella agarrou a oportunidade e reformou o espaço com a ajuda da família e dos amigos, “lá coloquei meus tornos, os equipamentos que comprei. Chegamos a inaugurar o ateliê e uma semana depois o ateliê fechou por conta da pandemia”.
Apesar de fechar o ateliê ao público, durante a pandemia ela aprofundou sua pesquisa artística e criou algumas coleções. Uma delas foi a Coleção Esperança, com pequenos vasos para plantas, fruto de uma ação no hospital Arnaldo Marques e no Hospital Agamenon Magalhães. Presenteou os profissionais da saúde com as peças, uma forma de agradecimento e uma semente compartilhada de esperança por tempos melhores.
Em homenagem à cultura popular pernambucana, criou a coleção Cerâmica Viva Nordeste, com peças utilitárias como xícaras, copos, pratos e cumbucas na qual se destacam as vivas cores do nordeste, com elementos do Maracatu, da flora nordestina – os cajus, cajueiros e sua folhagens, e dos casarios de Olinda e Recife.
A artista continua trabalhando em prol da sua comunidade, dá oficinas, abre o ateliê para receber estudantes e estagiários em artes visuais, e vê na arte uma oportunidade de mudar a vida de outras pessoas, como mudara a sua: “Através do meu trabalho eu consigo inspirar pessoas a alcançar seus objetivos, consigo formar pessoas”.
Sobre o território
Recife é uma das cidades mais antigas do Brasil, em meados do século XVI surgira como Ribeira de Mar dos Arrecifes, uma praia de pescadores na qual se encontravam as águas do mar e dos rios Capibaribe e Beberibe. A sua povoação data de 1561, despontando graças à cultura extensiva de cana-de-açúcar, o que lhe fez conhecida em todo mundo. A fama despertou a atenção dos holandeses, que invadiram e ocuparam a capital da Capitania de Pernambuco entre 1630 e 1654.
Os anos de ocupação holandesa ficaram gravados na arquitetura da cidade, que aliou os ideais renascentistas à tradição de instalar cidades em terrenos baixos. Assim, parte da cidade foi desenvolvida na foz dos rios, que também criaram monumentos e estruturas existentes até hoje como o Forte de São João Batista do Brum e a Fortaleza de São Thiago das Cinco Pontas. A cidade foi retomada pelos portugueses em 1654, pondo fim a invasão holandesa.
Fotos de divulgação Artesol
Nos séculos seguintes a cidade sofreu grandes transformações, expandiu-se no século XVIII graças a sua proximidade do porto. Esse período é marcado pela construção das edificações neoclássicas e ecléticas, sobretudo nas igrejas e paróquias. Ocorreram também a construção de pontes, aterros, e a instalação de uma Alfândega. Foi elevada à categoria de cidade em 1823 e tornou-se capital de Pernambuco em 1827.
A comunidade na qual Micaella nasceu e cresceu se encontra ao norte da cidade, a 6,68km do marco zero da capital. O Alto Santa Terezinha, cuja ocupação se intensificou a partir de 1947 com o esgotamento das ocupações dos morros e córregos vizinhos. Pertence a zona suburbana do distrito de Beberibe, tem cerca de 900 metros de extensão, 7.700 habitantes, dos quais mais de 53% são mulheres e 74% dos moradores que se autodeclaram pretos e pardos.