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Resende Costa – Minas Gerais


Resende Costa é reconhecida como Capital Mineira do Artesanato em Tear, atividade que faz parte da história da cidade e que conta com protagonismo feminino.

Foto: Fernando Chaves.

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CEP 36430-000, Resende Costa – MG

O Território

A cidade de Resende Costa está localizada na região do Campo das Vertentes, próximo a São João Del-Rei, município que, diferente dos demais, não viveu o ciclo do ouro. Resende Costa foi por muitos anos caminho de tropeiros, rota para outras cidades que viviam da mineração. A cidade nasceu em cima de um penhasco, com vista para um mar de serras, com casas de arquitetura colonial e uma igreja para Nossa Senhora da Penha de França, deixando marcada a história da colonização na região. O nome do município é em homenagem a um inconfidente mineiro chamado José Resende Costa, que saiu do Brasil e voltou posteriormente como deputado e conselheiro do império.

A colonização portuguesa trouxe consigo os primeiros teares com pedais feitos de madeira para o Brasil e, junto com eles, os primeiros artesãos e seus conhecimentos sobre a lã, o algodão e seus processos até virar o fio que tece roupas e enxovais. A técnica foi se espalhando pela colônia entre mulheres brancas, negras e indígenas e se perpetuando como tradição em Minas Gerais.

A princípio a lã e o algodão eram produzidos em casa, posteriormente comerciantes começaram a levar os fios já prontos e buscavam as peças produzidas para vender em outras regiões. Com o passar dos tempos, tecer se tornou ofício e sustento.

Como nasce um polo criativo?

A tecelagem em Resende Costa se expande junto a colonização, em um processo de compartilhamento de saberes que ultrapassou questões raciais e de gênero. Durante muitos anos o ofício foi desenvolvido por mulheres brancas, negras e indígenas enquanto os homens da região se dedicavam a outras atividades como agricultura, comércio e criação de animais.

Por um longo período os homens de Resende Costa se viam induzidos a sair do município. Longe de suas famílias, buscavam trabalho em estados e cidades vizinhas por não encontrarem oportunidade de geração de renda. Havia resistência em aprender tecelagem por considerarem trabalho feminino.

As artesãs, tratavam, tingiam, fiavam e teciam algodão e lã, passeando entre navetes, argadilhos e rodas, levando o conhecimento além das estruturas inventadas para construção das tessituras. As mulheres também precisavam entender do território e da flora local, pois eram das anileiras, urucuns e quaresminhas que saíam as cores para tingimento dos fios.

Sobre esse processo Flávia Cristina Silva descreve:

“Finalizado o preparo da matéria-prima, as artesãs iniciavam o urdume, com o auxílio de uma urdideira rústica; faziam depois a matemática complicada de dividir e “repassar” os fios pelas casinhas dos “lissos de quatro folhas” para criar desenhos e padronagens diferenciadas. Os diversos “repasses” recebiam nomes bastante criativos, como dadinhos, cruzeta, fivela, rosinhas de abraço, coroa de Salomão, laranja partida. Ainda hoje podemos encontrar em algumas casas os caderninhos nos quais os repasses eram anotados com delicadeza e cuidado. Na roça o artesanato nem sempre era uma atividade solitária, parte do trabalho era feita em mutirões que adentravam a noite. Todos cantavam e proseavam enquanto os pés tocavam com precisão ritmada os pedais das rodas de fiar”.

Em 1980 o município recebe asfaltamento, e o artesanato que movimentava a economia modestamente ganha um novo impulso junto ao coro entoado pelas artesãs que reivindicavam de seus companheiros e filhos que aprendessem o ofício para que pudessem estar mais presentes e junto de suas famílias.

Dentre os inúmeros relatos, uma narrativa se repete: foi a partilha feminina que fez de Resende Costa a cidade do artesanato.

Foto: Divulgação Artesol.

Quando se questiona quem ensinou a tecer, sempre se escuta: avó, mãe, tia, irmã, vizinha. Substantivo feminino, tanto na palavra quanto na ação. Ensinar a tecer é cuidar da autonomia e da perpetuação de uma tradição que sustenta famílias inteiras.

Como se mantém um processo criativo?

O dia em Resende Costa é ritmado pelo som dos teares que se fazem presente em quase todas as residências da cidade. No município costuma-se dizer que “cada casa tem um tear e pelo menos um artesão”.  Os números confirmam o dito popular, cerca de 70% da população trabalha com artesanato no município, seja na venda ou na produção das peças, sendo responsável pela principal geração de renda da cidade.

O ato de tecer passou por mudanças importantes para atender a demanda do mercado e da matéria-prima. O processo artesanal de feitura e tingimento dos fios deu lugar ao uso de retalhos de tecidos das indústrias têxteis das regiões sul e sudeste, que em alguns casos, fornecem e compram a produção dos lojistas e artesãos da cidade. Processo importante levando em consideração todo o lixo produzido pelas indústrias, mas que coloca em risco a existência de alguns saberes ancestrais como os conhecimentos das plantas tintórias e a procedência e processos de criação do fio.

Atualmente cerca de 57% da produção utiliza retalhos de tecido, o que acabou substituindo os ofícios de fiandeiras e cardadeiras pelos ofícios de cortadores e enroladores de retalhos. No centro urbano da cidade muitas lojas colorem suas fachadas com mantas, passadeiras, colchas, tapetes e infinitas tecituras com formas geométricas e texturas diferentes.

Resende Costa, que recentemente foi reconhecida como Capital Mineira do Artesanato em Tear, também conquistou o Selo INPI de indicação e procedência do artesanato, com apoio da Associação Empresarial e Turística de Resende Costa (ASSETURC) e apoio técnico do mestrado em inovação tecnológica da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), sob coordenação do pesquisador Bruno Dilácio, que escolheu o artesanato de Resende Costa como tema de seu mestrado.

A ASARC (Associação de Artesãos de Resende Costa) também tem papel fundamental na valorização e venda do artesanato na cidade, tendo se adaptado às demandas atuais e criando uma plataforma de vendas online com catálogo de todas as peças disponíveis para pronta entrega ou encomenda.

O município e a população acolheram a importância do artesanato como pilar social, cultural e econômico na cidade. O poder público e privado, vendo os resultados efetivos dessa atividade que une a população através do som percussivo dos teares, investe e incentiva em sua expansão.

No meio dessa expansão e desses reconhecimentos, mestras como Fátima do Nascimento Souza, que aprendeu a tecer aos 7 anos de idade com sua mãe, veem passar diante de si um filme de todas essas mudanças do ofício que escolheu para si e que fluiu junto à necessidade do povo, mas segue perpetuando o saber ancestral da tecelagem.

Foto: Fernando Chaves.

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