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Yang da Paz Farias


Escultor de imaginários, conseguiu conquistar uma identidade traduzida em delicados bonecos, longilíneos e achatados, de olhos abertos e bocas miúdas na figura de bailarinos com mãos livres e pernas longas que carregam em si a leveza do artesão.

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Ilha do Ferro, Pão de Açúcar – AL

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Sobre as criações

Crédito da foto: Vanessa Gomes

Matéria prima e inspiração. São os elementos que se unem nas mãos jovens da segunda geração de artistas da Ilha do Ferro, onde a presença marcante da natureza no cotidiano incita toda e qualquer criação. A pesquisa de raízes e pedaços de madeira morta vão dando contornos às obras que nascem do olhar atento e imaginário lúdico da nova escola de escultores ribeirinhos. Assim traçam a dinâmica local: madeira e criatividade transformados em obras de arte.

Herdeiro de uma originalidade entregue quase como herança genética, Yang Farias é parte dessa geração. Mas na verdade, são os galhos caídos de pereiro, craibeira, mulungu e umburana que utiliza – e outras madeiras quando as encontra mortas – que indicam os caminhos formais e figurativos de suas criações. Escultor de imaginários, ainda na adolescência correu atrás de encontrar sua linguagem estética. Conseguiu conquistar uma identidade traduzida em delicados bonecos, longilíneos e achatados, de olhos abertos e bocas miúdas na figura de bailarinos com mãos livres e pernas longas que carregam em si a leveza do artesão.

Os materiais obtidos em idas aos riachos, margens do rio e terras onde os donos lhe dão permissão para procurar e retirar madeiras mortas, tornam-se cada dia mais escassos. O pai, Petrônio, um dos mais reconhecidos artistas da Ilha, se dedica, solitário, ao replantio. “Ainda tem artesão que trabalha com madeira verde. Derrubando árvore. A gente sabe que isso é um processo. Falta muita conscientização da necessidade de plantar hoje para ter material para trabalhar amanha. O Mulungu, se plantar hoje já pode usar daqui 10 a 20 anos. Pereiro também. A imburana demora muito tempo pra crescer e muito tempo pra morrer. Se ela é morta hoje vou conseguir trabalhar com ela daqui há uns 20 anos. Ela demora muito para secar. Do contrario ela vai rachar pois tem muita umidade. Precisa ser feito um trabalho de regeneração do meio ambiente. Pai já faz isso.” Com a madeira em mãos, Yang lança mão da criatividade, do facão, da faca e da serra para dar forma às criações que, em seguida, recebem acabamento na lixa e por fim tinta para dar mais vida.

Sobre quem cria

Crédito da foto: Michel Rios

Yang Farias traz de berço sua arte. Aprendeu com o pai Petrônio, que por sua vez foi pupilo de Mestre Fernando, o grande responsável por transformar o povoado em um dos mais importantes polos criativos do Brasil. Isso foi na época em que viviam no acampamento Riacho Grande (Sapé Tiaraju) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Quando pequeno ficava reinando com as ferramentas dele. Aqui e acolá fazia uma formiguinha, um animal pequeno, sempre inspirado nele, praticamente copiando o que o pai fazia, já que não tinha outra referencia. Aprendi só observando.” Uma arte que, na adolescência, foi transformada em profissão.

Foram cinco anos até que o artesanato lhes permitisse melhorar de vida, quando o pai conseguiu juntar um valor suficiente para compra de um terreno graças ao trabalho com artesanato. Mudaram-se para um local na estrada entre Pão de Açúcar a Ilha do Ferro. Quase uma galeria a céu aberto em pleno sertão, o local passou a ser visitado por turistas. Já reconhecido, Petrônio passou a viajar para expor seu trabalho levando sempre as criações do filho. Mas logo Yang retornou ao MST em busca de um novo sonho: tornar-se médico e o movimento possibilitaria que ele fosse para Cuba estudar, sem custos. Concluiu o ensino médio e se mudou. Convocado para o Projeto de alfabetização de jovens e adultos “Sim, eu posso!”, passou dois anos no Maranhão. Sem tempo, reduziu a produção mas nunca parou. Retornou aos 20 anos e a família já havia adquirido a casa própria, em Ilha do Ferro. Yang passou a atender ainda mais pedidos do que antes, com suas criações distribuídas em mais de uma dezena de galerias espalhadas pelo Brasil. “Tinha galeria que eu tinha peça que eu nem sabia”.

Sobre o território

Mestre Petrônio e Yang / Crédito da foto: Michel Rios

Banhada pelas águas, a brisa e a beleza do São Francisco, a 230 km de Maceió e 18 km do centro da cidade de Pão de Açúcar, encontramos a Ilha do Ferro. Um povoado em pleno sertão alagoano com pouco mais de 450 habitantes – quase todos artistas ou artesãos. Formado por gente de 80, 90 anos que ainda produz e crianças que já começam a aprender. Um lugar de arquitetura simples, barcos de pesca, onde o tempo passa sem pressa e uma arte singular é produzida, herança de gerações.

Movido pelo desejo de ensinar, Yang tem o projeto de comprar um carro que permita colocar suas ferramentas de trabalho e material e sair viajando pelo Brasil oferecendo oficinas a crianças, jovens e adultos em escolas, praças e locais públicos e fazer troca de experiências com outros artistas brasileiros. Mas não esquece o desafio ambiental. “Vou começar a produzir cerca de 50 mudas de árvores a cada 4 meses, sei que não é muito, mas será um começo. O maior desafio hoje é conscientizar não só os artistas, mas toda a população da importância que é preservar o meio ambiente e fazer replantio de árvores nativas, visando não só ter matéria prima para trabalhar no futuro, mas também ter uma melhor qualidade de vida, pois são as árvores que geram o oxigênio e diminuem o aquecimento global.”

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