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Bento de Sumé


SuméPB

Bento é um artista autodidata que esculpe na madeira imburana, trazendo à tona animais do Cariri pernambucano, santos da sua fé, e o que mais a imaginação lhe permitir.

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Contato Bento de Sumé – Bento Medeiros Gouveia
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Sobre as criações

Bento, nascido e criado em Sumé/PB, teve seus primeiros contatos com a madeira através do roçado. Trabalhou alguns anos fazendo carvão em sua cidade natal, até que aos 18 anos decidiu seguir para São Paulo em busca de trabalho. Na megalópole logo conseguiu trabalho, ajudava caminhoneiros e tinha chefe.

Mestre Bento conta que foi depois de um acidente que voltou a entrar em contato com a madeira. Foi  atropelado na saída do trabalho, mas segundo ele: “Como dizem aqui no nordeste: Tem males que vem para o bem”.

Com dificuldade de locomoção, Bento de Sumé viu sua rotina de trabalho ativa atrofiar. Dependendo de muletas, não conseguia executar alguns trabalhos e passou um tempo parado. Para justificar o uso desse dito popular nesse momento traumático de sua vida, Bento contou:

“Eu comecei sozinho, tava caminhando com as muletas embaixo dos braços, vi um pallet, fui arrastando ele e comecei a imaginar. Primeiro fiz uma igrejinha, depois os animais”.

Aos 38 anos, em meio aos seus intensos processos de criação, decidiu voltar para Sumé. Os pallets foram substituídos pela imburana, madeira que já tinha familiaridade. Voltou para Paraíba carregando junto ao nome de nascimento o nome de sua cidade, ficando conhecido como “Bento de Sumé”.

Esculturas de pássaro de Bento de Sumé. Crédito: Roberta Martinho / Loja Lendária

“Eu comecei sozinho, tava caminhando com as muletas embaixo dos braços, vi um pallet, fui arrastando ele e comecei a imaginar. Primeiro fiz uma igrejinha, depois os animais”

Bento de Sumé

Sobre quem cria

Bento, que durante todo o diálogo demonstrou sua fé, nos contou que a primeira imagem sacra que fez foi ainda em São Paulo. Nossa Senhora Aparecida foi a santa escolhida. As esculturas que começaram com pequenos animais, logo abriram espaço para santos e ex-votos que fogem do tradicional, pois Bento coloca em cima dos bustos de madeira, direcionados a pagamentos de promessas, pássaros, onças e o que sua imaginação sugerir.

No início levava suas peças para as feiras de Sumé e pensava: “Se disserem que é feio, eu digo: “obrigada, vou melhorar. Mas na minha mente: não tem peça feia não. São os olhos do povo”.

Observando o interesse das pessoas por suas criações, Bento passou a frequentar a feira de Cabaceiras e outros eventos de artesanato. Vendo sua clientela crescer, fortaleceu sua escolha e teve a certeza do ofício.

Suas criações o sustentam não apenas financeiramente, mas como ser. Foi através das esculturas em madeira que construiu sua casa. Casa essa que hoje serve de escola para seu neto, que senta ao seu lado e pede para pintar junto ao avô. Seu Bento diz torcer para que o neto siga se interessando e perpetue seu saber.

Mestre Bento de Sumé e sua criação / Crédito da foto: Divulgação Governo da Paraíba

“Eu mesmo ia buscar a imburana, eu já saia de casa imaginando a peça na mente. Geralmente trabalho com ela morta, é uma madeira morta que eu dou vida, né?

Bento de Sumé

Sobre o território

Sumé faz parte do Cariri paraibano, com clima semiárido. Antes de ser colonizada, a região era povoada pelos indígenas Sucurus, do povo Cariri. Localizada a aproximadamente 258 km da capital João Pessoa, Sumé faz parte da Borborema paraibana, na microrregião do Cariri Ocidental, transpassado por importantes manifestações culturais e abrigando na região rural inscrições e gravuras rupestres pouco estudadas até o momento. Atualmente a população local conta com aproximadamente 17 mil habitantes e as expressões culturais passam pela música, dança, artes visuais, gastronomia e artesanato.

Do cariri paraibano vem a imburana, que nas mãos de Bento se transforma em arte. A madeira, os pássaros, os tejus, muito de seu trabalho fala sobre Sumé.

“Alguns dos passarinhos eu trabalho em cima, né? Outros já vem de deus. Aqui, de vez em quando aparece um casal de galo de campina que eu alimento eles. Muitos eu vejo por aqui. Tem uns tejus que mudam de cor né?”.

É na observância cotidiana, do entorno e do seu quintal, que Bento de Sumé encontra inspiração para suas criações. Talvez por isso carregue o nome da cidade junto ao seu e diga que é importante valorizar a cidade onde se nasce.

Seu Bento, que desde cedo se relacionou com árvores e suas frações, parece entender bastante da importância de valorizar suas raízes.
“Eu mesmo ia buscar a imburana, eu já saia de casa imaginando a peça na mente. Geralmente trabalho com ela morta, é uma madeira morta que eu dou vida, né? Hoje em dia eu levo alguém pra me ajudar e levar pra beira da estrada, mas eu vou junto”.

Sendo assim, quem olha uma peça de Bento, conhece um pouco do seu quintal, do Cariri Paraibano, das estradas de imburana, dos pássaros que por lá sobrevoam e de sua fé.

Membros relacionados

Esculturas em madeira de Bento de Sumé. Créditos: Roberta Martinho / Loja Lendária