Edson Severino Ramos Júnior 


Bojos em movimento; figuras antropomorfas; elementos fantásticos; texturas forjadas no barro. Entre o realismo e o surreal, Edson construiu um universo que une seu traço singular, a herança simbólica familiar e de Tracunhaém.

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Tracunhaém – PE

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Sobre as criações

Figuras religiosas e ornamentais que unem elementos fantásticos aos realistas: faces de animais em figuras humanas, furinhos, texturas rústicas, movimento. As criações de Edson exploram elementos oníricos e surrealistas. Assim surgem o São Francisco com cabeça de passarinho ou com asas; a Nossa Senhora da Piedade com uma cobra no rosto; carrancas e máscaras, religiosas ou ornamentais, com mãos, sem mãos, com olhares em direções distintas. As figuras de três cabeças dialogam diretamente com a herança simbólica da avó. 

Essas experimentações técnicas consolidaram seu traço particular, que imiscui singularidade e herança familiar. A avó, mestra Severina Batista (1933–1981), foi a primeira artesã santeira de Tracunhaém. Gostava de afetar, de provocar o olhar do outro — como ele diz, ela queria “mexer com a pessoa”. Foi dela que herdou o interesse por uma arte que afete, que toque, e pela ideia de “trindade”. 

Por sua trajetória familiar, ele “sabia onde estava pisando” quando decidiu se profissionalizar na cerâmica. Desde então, tem se dedicado à criação de novas técnicas, como a secagem ao vento — em que busca movimentos orgânicos nas peças, deixando os bojos recém-modelados expostos ao ar —, e o uso de instrumentos incomuns para modelagem e acabamento, como arames e hashis. Alguns traços vêm sendo cada vez mais desenvolvidos em seu trabalho: variações nos cabelos das figuras; elementos de inspiração surrealista; acabamento rústico que remete à textura das estopas. 

O processo de produção, totalmente manual, começa com o conhecimento preciso do ponto da argila, que é testado com a modelagem de pequenas cobrinhas: se não rachar ao dobrar, está no ponto. A modelagem se inicia pelos bojos, que irão secar ao vento. Em seguida, são feitos furos para tirar o ar do barro, e ele dedica horas à construção detalhada dos elementos que compõem cada peça — os furinhos, as texturas, os gestos. A queima em forno a lenha finaliza o processo e garante o acabamento das superfícies, que não recebem pintura. 

Edson ainda guarda as três primeiras peças que produziu: uma carranca, um anjo e uma imagem de Nossa Senhora da Agonia. Suas obras têm muitos detalhes: furinhos que remetem aos formigueiros das memórias de infância e da obra da avó; riscos que criam a textura da estopa; e esplendores que lembram cocares indígenas. As peças são ocas e não são pintadas, mantendo a cor natural do barro. 

Desde o início, ele cria pensando na originalidade — suas peças nunca são iguais. Há, inclusive, um elo afetivo geracional: alguns clientes que o procuram porque os pais compravam do tio ou da avó. 

Sobre quem cria

Natural de Tracunhaém (PE), Edson está imerso simbolicamente em um território onde a cerâmica é mais que ofício: é cultura, sustento, pertencimento. “Cerâmica é tudo na cidade: alimento, uma conta de água, sustento”, afirma. A história do lugar é indissociável da cerâmica — e ela funciona também como forma de transmissão dessa memória. 

A relação de Edson com o barro não pode ser separada nem de seu território, nem de sua herança familiar. A sua família está entre as mais tradicionais nesse ofício. Ele afirma ser a quinta geração de ceramistas. Embora Edson não a tenha conhecido pessoalmente a sua avó, descobriu muito sobre sua trajetória por meio de livros e museus, como O reinado da lua: escultores populares brasileiros, o Museu Casa do Pontal e o Museu de Arte Sacra de Recife. 

Apesar dessa forte herança, Edson só passou a trabalhar profissionalmente com cerâmica a partir de 2016, quando se viu desempregado — até então, atuava na área de telecomunicações. Nesse momento, decidiu retomar o artesanato como profissão. Retomar, porque desde a infância a cerâmica já fazia parte do seu cotidiano. Ele guarda memórias dos tempos de olaria, ajudando na produção de pequenos passarinhos para vender aos turistas. As crianças não apenas modelavam, mas também atuavam como guias, apresentando a cidade. 

Foto de divulgação Artesol

A transmissão do ofício começou ainda na infância e, no momento da profissionalização, foi fortalecida por trocas com o tio, Luiz Gonzaga, e com os artesãos da cidade. Luiz Gonzaga teve um papel essencial nesse processo: foi quem o incentivou e o levou para suas primeiras participações na Fenearte, onde expuseram juntos. Edson lembra com carinho de sua estreia em 2019, quando levou 80 peças e vendeu quase todas — apenas 10 não foram vendidas. O tio, por sua vez, havia convivido diretamente com a avó, o que fazia dessa relação mais que aprendizado técnico. 

No centro da cidade, funciona o Centro de Artesanato, espaço fundamental na formação e fortalecimento dos artesãos locais. O primeiro andar é dedicado à infraestrutura de trabalho; o segundo, à exposição das peças. O centro, que reúne entre 15 e 20 artesãos, é também um ponto turístico importante e um lugar de aprendizagem coletiva. Edson frequentava a cooperativa ali instalada duas a três vezes por semana, participando ativamente dessas trocas. 

Na comunidade, o conhecimento circula de forma coletiva e não sistemática, graças à capilaridade que a cerâmica tem na cultura local e no tecido social. Com o tempo, Edson passou a perceber ainda mais essa relação profunda entre fazer artístico e memória – encontrando sentidos simbólicos em sua própria produção. Os pequenos furinhos que costuma fazer nas peças, por exemplo, representam os formigueiros da região. O nome da cidade, em tupi-guarani, significa justamente isso: formigueiro — e a avó os via com frequência ao buscar água ou caminhar pelas ruas da cidade. 

O mais marcante, para ele, foi perceber que conseguiria viver do artesanato. Logo no início, antes mesmo de finalizar duas peças da sua linha de carrancas, turistas já demonstraram interesse e combinaram de buscá-las assim que estivessem queimadas. Eram visitantes de Recife, frequentadores assíduos de Tracunhaém, que mais tarde se tornaram clientes. Naquela ocasião, acabaram comprando seis ou sete peças. Para Edson, aquilo foi mais do que uma venda: foi um sinal — um despertar interior de que o caminho seria mesmo o barro. 

Sobre o território

A paisagem de Tracunhaém, município localizado na Zona da Mata Norte de Pernambuco, é marcada por clima úmido, serras e extensos canaviais. O solo argiloso e as heranças afro-ameríndias fizeram do município terra de alguns dos maiores artistas populares do Brasil na arte da cerâmica. O próprio nome reflete as marcas da paisagem e da história, de origem tupi-guarani, quer dizer “panela de formigas”.  

A princípio, as comunidades indígenas produziam pratos, copos, panelas e cachimbos. Com a colonização e a ocupação das terras pelos canaviais, as olarias também passaram a produzir telhas para engenhos açucareiros e seus donos. 

Com a colonização também surgiram os Mestres Santeiros e, junto com eles, a criação de imagens figurativas. Alguns dizem que essa tradição teve início a partir de brincadeiras infantis dos filhos dos artesãos, que modelavam animais e personagens. 

Ainda hoje a tradição das olarias se mantém na cidade, que tem aproximadamente 14 mil habitantes e é uma das principais atividades econômicas, junto à cultura da cana-de-açúcar. 

Fotos de divulgação Artesol

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