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Família Zé Caboclo


Mantendo o legado de Zé Caboclo vivo, cada artesão da família reinventa suas temáticas e cria inovações, modelando o barro a partir de uma linguagem artística individual.

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Contato Socorro Rodrigues
Rua Mestre Vitalino, nº 507 – Bairro Alto do Moura, CEP 55040-010, Caruaru – PE

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Créditos pelas fotos dos produtos: Ricardo Carotta

Sobre as criações

Os artesãos da família seguem o trabalho do mestre Zé Caboclo, reproduzem suas peças e reapropriam-se de temáticas a partir de uma linguagem artística individual. Modelam com a argila do rio Ipojuca cenas do cotidiano e da cultura nordestina, como bandas de música, famílias de retirantes, brincadeiras infantis, carros de boi, folguedos e festas populares, profissionais, entre tantas outras. Dos seis filhos, Antônio, Marliete e Socorro possuem os trabalhos mais inovadores, criando obras com temática permeada por suas experiências e subjetividades. 

Antônio é quem possui o trabalho mais próximo ao do pai. Foi ele quem retomou o tema “A Escola dos Bichos”, relembrando uma peça que Zé Caboclo fez por encomenda a partir de uma imagem enviada por um cliente.  Desdobrando a temática, criou a peça “A Farra dos Bichos”, que retrata animais sentados ao lado de dentro de uma mesa circular se acabando de comer frutas que caem de uma grande árvore localizada ao centro. Antônio também se dedica a modelar os personagens dos reisados e outros folguedos, como o boi-bandeira e o cavalo-marinho, continuando uma inovação de Zé Caboclo, que também era brincante. Também é criador de esculturas da La Ursa, que faz grande sucesso. 

A produção de miniaturas na família teve início com Socorro. Quando criança, produzia peças pequenas porque eram mais fáceis, mas logo pegou o gosto e assumiu como seu traço individual. É conhecida como a mais perfeccionista da família, produzindo poucas peças por mês, pois se dedica a cada uma com muito esmero. Tem como temática favorita representar o universo lúdico das antigas brincadeiras infantis, como peão, pipa, amarelinha, em um esforço para preservar a memória de algo que diz estar desaparecendo. Também inventou cenas profissionais, como o pipoqueiro. 

Marliete começou seu trabalho fazendo peças maiores e é considerada a artista mais ágil da família, sempre com produções muito volumosas. Logo se interessou pelas miniaturas por influência da irmã, revelando grande habilidade para as peças de pequenas dimensões. Ficou conhecida por suas cenas do cotidiano familiar, criadas a partir das lembranças de sua avó. Nelas, a avó alimenta as galinhas, conta histórias para os netos em uma sala ou assistem juntos à televisão. 

Depois de modeladas, as peças só são queimadas em fornos a lenha após de estarem completamente secas. A família detém, há muitos anos, o conhecimento preciso para produzir as peças com o mínimo de perda possível. Depois de queimadas, são pintadas com esmalte sintético, etapa muito trabalhosa devido à diversidade de cores e riquezas de detalhes. 

Sobre quem cria

Artesão da Família Zé Caboclo / Crédito da foto: Théo Grahl

Artesãos da Família Zé Caboclo: fotos 1 e 4 – Antonio Rodrigues, foto 2 – Socorro Rodrigues, foto 3 – Marialda Rodrigues / Crédito das fotos: Théo Grahl

José Antônio da Silva (1921–1973), mais conhecido como Zé Caboclo, nasceu em Sítio Ribeira dos Campos, em Caruaru. Por volta dos 7 anos de idade, mudou-se com sua família para o Alto do Moura. Como tantas crianças que crescem em comunidades com tradição oleira, desde cedo modelava figurinhas no barro para brincar. 

Zé Caboclo era inseparável de seu cunhado Manuel Eudócio e, juntos, foram os primeiros aprendizes de Mestre Vitalino na cerâmica figurativa, inserindo inovações à técnica original do mestre, como a utilização de arames na estrutura das figuras e a pintura dos olhos com tinta branca e bolinha preta no lugar dos pequenos orifícios que Vitalino fazia. Desse diálogo e colaboração entre os três, e com outros artesãos que também foram discípulos do mestre, como Zé Rodrigues, Ernestina e Manuel Antônio, surgiu a tradição figurativa em cerâmica do Alto do Moura, mudando completamente a história da vida de seus moradores. 

Zé Caboclo repassou seus conhecimentos para os oito filhos, formando uma oficina familiar de modelagem de figuras. Atualmente, seis dedicam-se à arte figurativa como principal atividade econômica: Paulo Rodrigues da Silva (1950), Antônio Rodrigues da Silva (1951), Maria do Socorro Rodrigues da Silva (1955), Carmélia Rodrigues da Silva (1956), Marliete Rodrigues da Silva (1957) e Horácio Rodrigues da Silva (1965). Além dos filhos, vários netos de Zé Caboclo aprenderam a modelar o barro seguindo os passos da família, mas é Amanda Paes Rodrigues Pereira (1982), filha de Antônio, quem mais tem se destacado. 

Foram as mulheres da família – Carmélia, Marliete e Socorro – que criaram, junto a outras artesãs, a primeira associação de artesãs mulheres do Alto do Moura. A ideia para fundar o grupo Flor do Barro surgiu em uma caminhada em 2014, enquanto elas conversavam sobre a invisibilidade das mulheres artesãs da cerâmica, geralmente relegadas a ficarem escondidas na cozinha, onde costumam trabalhar, e suas artes serem consideradas menores. Hoje, cerca de 20 artesãs fazem parte do grupo, que oferece oficinas, busca apoio para projetos e tem a função de fortalecer o trabalho feminino por meio da união afetiva. 

Marliete Rodrigues recebeu o título de Patrimônio Vivo do estado de Pernambuco em 2021 e Socorro Rodrigues recebeu o título de Notório Saber da Universidade de Pernambuco em 2024. 

Sobre o território

Alto do Moura é um bairro do município de Caruaru, um dos mais importantes do Vale do Ipojuca, agreste pernambucano. Ganhou notoriedade a partir da projeção de um de seus mais ilustres artistas, Mestre Vitalino. Um pólo criativo dinâmico e, ao mesmo tempo, voltado para o cultivo das tradições que concentra essa comunidade de artistas do artesanato do barro considerada, pela Unesco, o maior centro de arte figurativa das Américas. Estimada, em 1990, em cerca de 500 artesãos. 

Antes do século XVI, a região era habitada pelos indígenas Kariris, que possuíam uma produção de cerâmica de barro rústica, sem um estilo definido. A cerâmica utilitária produzida pelos louceiros de barro da região até a metade do século XX sofre grande influência da cultura indígena, e existência de práticas introduzidas pela população de origem africana e portugueses. Mas até o final da década de 1940, a economia do Alto do Moura dependia basicamente da agricultura de subsistência familiar, com pequenas culturas de milho e mandioca. Um dos principais fatores para o aumento da produção de cerâmica de barro na região foi a Feira de Caruaru, primeiro espaço de comercialização das peças produzidas ali. Com a chegada de Vitalino, em 1948, anuncia-se uma nova perspectiva para a comunidade e a produção ceramista local. 

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