Mestre Valmir Lessa
O impulso criativo de Valmir e outros artistas do povoado é a matéria prima, “madeira que pegam no mato”, na caatinga.
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Sobre as criações
O impulso criativo de Valmir e outros artistas do povoado é a matéria prima, “madeira que pegam no mato”, na caatinga. Aliás, “amanhã é dia de ir pro mato”, lembra Valmir. E elas são muitas: “Raiz de pau, mas tem também a madeira que a gente pega do rio (São Francisco), debaixo d’água. A gente encontra muito quando chove, nos riachos, nas grotas”. As variedades que usa são o pereiro e a craibreira. E descreve o processo de forma rústica como a própria arte que produz. Coleta a madeira, descasca, lixa e faz a cadeira. Valmir não usa cola. Nenhum prego. “Teve uma vez que eu e Seu Fernando mandamos uma cadeira pra Maceió, o prego enferrujou e ela desmontou. Daí a gente inventou uns pauzinhos, torninho de pau e a cadeira fica bem firme”. Sobre o desafio de esculpir em parceria com a natureza, declara: “Tem vez que você vai pro mato e sai bem cedo. Volta lá pelas 14h e não encontra nada, nada. Porque é difícil, você tem que achar a madeira. Tem vez que você acha, olha o bicho lá, já tava feito na natureza”.
Sobre quem cria
Valmir é casado com Rejânia Rodrigues, filha do mestre que converteu a tantos artistas no povoado e tinha por hábito lançar o desafio de esculpir um objeto, provocando as pessoas a cumpri-lo. Ao retornar com o desafio cumprido o reconhecimento era o pagamento pela peça. Um valor que fosse significativo o suficiente pra que ela se motivasse a dar continuidade as explorações artísticas. Uma generosa e sagaz prática que contaminou o povoado. Os discípulos de Seu Fernando buscam na matéria-prima morta na natureza. E mesmo bebendo da mesma fonte, se desafiam a encontrar espaços de originalidade.
Valmir começou lhe auxiliando mas logo encontrou uma estética própria, admirada por galeristas e colecionadores. Já fazem 21 anos. Esculpe no antigo atelier do mestre. “Ele me chamou pra trabalhar mais ele, fazer cadeira. Trabalhava nós dois juntos. A gente ía pro mato, tirava madeira. Ele ensinou como os tocos davam madeira, dava bicho (que o próprio artista não é capaz, muitas vezes, de identificar) e aí nós fomos fazendo”. Hoje ele repassa seu conhecimento e emprega seis pessoas do povoado, formando uma nova geração de artistas. Um deles, é vizinho, um menino de nove anos. Também a filha Camille, única artesã da Ilha.
Sobre o território
Boca do Vento. Nome do antigo atelier de Seu Fernando na Ilha do Ferro, singelo povoado convertido a um dos principais pólos criativos de arte popular no Brasil. E é bem de frente para o Velho Chico que Valmir passa os dias conversando com troncos e pedaços de pau. A protagonista segue sendo ela, a cadeira. Vendem muito para turistas mas também pra lojistas, e alguns dos mais importantes profissionais do mercado de arte popular, como o curador Marco Aurélio Pulchério e a produtora visual Zizi Carderari. Com ajuda da filha Camille, na organização de pedidos e despachos, e também de Mariana, filha do colega Aberaldo, definem preços e fazem divulgação pelas redes sociais. Suas peças são privilégios daqueles que ousam visitar seu sertão, já que de feiras, participou uma única vez.
Celebrada pelas majestosas águas do Velho Chico, a Ilha do Ferro é um lugar singular. Onde o tempo pertence a uma outra métrica e a natureza provoca a criatividade desses artistas. A caatinga, mesmo em seu caráter árido e severo, forja indivíduos doces e sensíveis. Plenos e integrados. “Porque é bom demais, trabalhar com arte, caçar madeira… É bom demais!”