Nov’Arte
Da madeira caída depois de temporal e queimada, os artesãos de Novo Airão produzem os mais variados objetos, como caixas, utensílios e acessórios.
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Sobre as criações
Da madeira caída depois de temporal e queimada, os artesãos de Novo Airão produzem os mais variados objetos, como caixas, utensílios e acessórios. As mãos que esculpem a madeira se inspiram principalmente na fauna da região e em objetos muito presentes no cotidiano dos moradores. Um dos produtos mais procurados, entretanto, não tem origem amazônica, mas indonésia. Trata-se do sapo cantor, hoje conhecido em todo o mundo e que em Novo Airão faz madeiras como a itaúba, o roxinho, a muirapiranga e a jaqueira cantarem ritmicamente com sons suaves e melódicos.
A dureza e a densidade da madeira indicam que tipos de peça podem ser esculpidas. Por exemplo, as madeiras mais duras permitem um entalhe mais fino e preciso, em relação às mais macias. Cada galho ou tronco colhidos na mata, ou de refugos de serrarias possui uma forma que ganha vida nas mãos dos artesãos. Assim nascem esculturas de tatus, tartarugas, jabutis, capivaras, pacas, tucanos, araras, sapos, peixes-boi, botos e peixes como o tucunaré, o matrinxã, o pirarucu, o aruanã, entre outros. Algumas peças são feitas por meio da colagem de vários tipos de madeira o que produz um contraste que realça a beleza de cada uma delas.
Sobre quem cria
A formação das Unidades de Conservação na região onde se encontra Novo Airão, na década de 1980, e a proibição de extração de matéria-prima trouxeram conflitos sociais e dificuldades para os moradores que tradicionalmente ocupavam as terras e delas tiravam seu sustento. Nesse cenário, o turismo ecológico e o artesanato despontaram como possibilidades tanto de geração de renda para essas comunidades, como de preservação das tradições culturais do lugar.
Em 1994, do encontro entre o manauara Miguel Rocha da Silva e o suíço Jean-Daniel Vallotton, se concretizou o sonho de Miguel de ensinar artesanato em madeira com a reutilização de sobras da indústria naval no município de Novo Airão. Nasceu, assim, um núcleo produtor que reuniu antigos moradores do Parque Nacional do Jaú e da Estação Ecológica de Anavilhanas e moradores de Novo Airão com o intuito de ensinar e incentivar as técnicas da marcenaria e do entalhe.
Seguindo a proposta de trabalhar com o aproveitamento de madeiras, os artesãos saem em busca de galhos caídos nos roçados que as pessoas queimam para plantar, assim como em serrarias e estaleiros navais.
Sobre o território
Novo Airão encontra-se a cerca de 180 km de Manaus, em uma região que dá acesso a dois dos mais importantes parques nacionais da Amazônia: o Parque Nacional de Anavilhanas, considerado o segundo maior arquipélago fluvial do mundo, com cerca de 400 ilhas, e o Parque Nacional do Jaú, o segundo maior parque nacional do Brasil, declarado pela UNESCO como Patrimônio Natural da Humanidade. Esse parque é de grande importância para a preservação dos ecossistemas das bacias do Rio Negro e do Rio Solimões, uma vez que se encontra entre as duas.
Lugar habitado por botos-vermelho, botos-tucuxi (cinzentos), peixes-boi e Sumaúmas, árvore amazônica que chega a 40 m de altura e de gigantescas raízes, Novo Airão é conhecida por muitos como o “Paraíso Ecológico”. Mas para além das belezas indescritíveis e de sua importância ambiental, a região guarda certo mistério em relação ao seu passado que se materializa na cidade fantasma de Velho Airão.
Antes de ficar conhecida como “Velho Airão”, o nome da cidade era apenas Airão e foi o primeiro povoado às margens do rio Negro. Fundada em 1694, Airão é ainda mais antiga que a primeira capital do Amazonas, Barcelos. Até meados do século XX, a cidade concentrou toda a produção de borracha do Alto Rio Negro, Rio Jaú e seus afluentes e do rio Branco, tendo sido importante fornecedora do ouro branco para os países do eixo Aliados da Segunda Guerra Mundial. Após o fim da guerra, os ingleses passaram a comprar látex de sua então colônia em continente africano, Malásia, o que provocou a decadência do ciclo da borracha, no Brasil.
Airão se tornou uma cidade falida, isolada e abandonada pelo poder público e começou a ser deixada pelos moradores. Grande parte da população foi transferida para a vila de Itapeaçu, que passou a se chamar Novo Airão. Algumas histórias que explicam o abandono da cidade são ouvidas hoje. Uma delas conta que a cidade teria sido enfestada por formigas de fogo que, inclusive teriam levado muitos moradores à morte. Outra história conta que os moradores teriam sido espantados pelos espíritos dos índios escravizados.